Como Lenin estudava Marx

Por Nadezhda Krupskaya, via Marxists.org, traduzido por Gabriel Landi Fazzio

Devido ao atraso da indústria na Rússia, o movimento operário só começou a se desenvolver nos anos [18]90, quando a luta revolucionária da classe trabalhadora já estava se desenvolvendo em vários outros países. Já havia transcorrido a experiência da grande Revolução Francesa, a experiência da revolução de 1848, a experiência da Comuna de Paris em 1871. Os grandes líderes ideológicos do movimento operário – Marx e Engels – foram forjados no fogo da luta revolucionária. Os ensinamentos de Marx mostraram a direção tomada pelo desenvolvimento social, a inevitabilidade da desintegração da sociedade capitalista, a substituição dessa sociedade pela sociedade comunista, os caminhos que serão tomados pelas novas formas sociais, o caminho da luta de classes; eles revelaram o papel do proletariado nessa luta e a inevitabilidade de sua vitória.


Nosso movimento operário se desenvolveu sob a bandeira do marxismo. Não cresceu cegamente, tateando seu caminho, mas seu objetivo e seu caminho eram claros.

Lenin desempenhou um tremendo papel na iluminação do caminho da luta do proletariado russo com a luz do marxismo. Cinquenta anos se passaram desde a morte de Marx, mas para o nosso Partido o marxismo ainda é o guia para a ação. O leninismo é apenas mais um desenvolvimento do marxismo, um aprofundamento do mesmo.

Portanto, é óbvio por que é tão grande o interesse em esclarecer a questão do estudo de Marx por Lenin.

Lenin tinha um conhecimento maravilhoso de Marx. Em 1893, quando chegou a São Petersburgo, surpreendeu a todos nós que éramos marxistas na época com seu tremendo conhecimento das obras de Marx e Engels.

Nos anos noventa, quando os círculos marxistas começaram a se formar, foi principalmente o primeiro volume de “O Capital” que foi estudado. Foi possível obter “O Capital“, embora com grandes dificuldades. Mas as coisas eram extremamente ruins com relação às outras obras de Marx. A maioria dos membros dos círculos nem sequer havia lido o “Manifesto Comunista“. Eu, por exemplo, o li pela primeira vez apenas em 1898, em alemão, quando estava no exílio.

Marx e Engels eram absolutamente proibidos. Basta mencionar que, em 1897, em seu artigo “As Características do Romantismo Econômico“, escrito para o “Nova Palavra”, Lenin foi obrigado a evitar o uso das palavras “Marx” e “Marxismo”, e falar de Marx de maneira indireta para não causar problemas ao jornal.

Lenin entendia línguas estrangeiras, e ele dedicou seu melhor a escavar tudo o que podia de Marx e Engels em alemão e francês. Anna Ilinishna conta como ele leu “Miséria da Filosofia” em francês, juntamente com sua irmã, Olga. Ele teve que ler a maior parte em alemão. Ele traduziu para russo, para si, as partes mais importantes das obras de Marx e Engels que o interessavam.

Em seu primeiro grande trabalho, publicado ilegalmente por ele em 1894, “Quem são os ‘Amigos do Povo’ e como lutam contra os social-democratas?” há citações do “Manifesto Comunista”, da “Crítica da Economia Política”, “Miséria da Filosofia”, “Ideologia Alemã”, a carta de Marx