Conspirações fascistas nos EUA: Lições contemporâneas do “Complô dos Empresários” de 1934

Por Gabriel Rockhill, via Liberation School, traduzido por Matheus Galhardo

“Em contraste com o fascismo alemão, o qual atua sob slogans anticonstitucionais, o fascismo americano tenta se apresentar como o guardião da Constituição e da ‘Democracia americana.’”

-Georgi Dimitrov


Há seis meses, no dia 6 de janeiro, 2021, uma massa de racistas, incitada pelo presidente cessante Donald Trump, invadiu o Capitólio dos EUA em uma tentativa caótica para evitar a apuração dos resultados da eleição presidencial de 2020 pelo congresso, um passo necessário antes da posse de Joe Biden.

O ataque ao Capitólio foi liderado por grupos de fascistas militarizados compostos por muitos militares e policiais na ativa ou aposentados [1]. Alguns dos líderes das organizações envolvidas, como Enrique Tarrio e Joseph Biggs do Proud Boys, tinham ligações diretas às agências de inteligência estadunidenses, tendo servido como informantes do FBI [2]. Naquele dia, apenas um quinto da Polícia do Capitólio estava em serviço, porém os policiais estavam despreparados e desequipados, sendo que o estado de segurança nacional dos EUA já tinha conhecimento avançado sobre a conspiração. Uma Investigação do Senado concluiu que houve uma “falha” de segurança em várias etapas no 6 de janeiro que envolveu não apenas a Polícia do Capitólio mas também o Departamento Federal de Investigação, o Departamento de Segurança Nacional e o Departamento de Defesa, dentre outras agências: A Polícia do Capitólio foi vista abrindo as barricadas e fraternizando com fascistas, houve atrasos na movimentação da Guarda Nacional, restrições aos reforços vieram de cima (envolvendo o Secretário de Defesa Mark Esper e o Secretário do Exército Ryan McCarthy, dentre outros), agentes do DSN da reserva não foram movimentados, etc. [3].

Ainda não se sabe muito sobre o que realmente estava acontecendo por trás das cenas espetaculares da invasão ao Capitólio. O fato de que a mídia burguesa veiculou uma extensa campanha de fé no governo, e de que os republicanos do Senado barraram planos para uma comissão governamental bipartidária para investigar o caso, apenas contribuíram para a obscuridade acerca deste evento. Perguntas essenciais permanecem: Apesar de haver claros sinais de envolvimento governamental, até que ponto a conspiração chegava? Quais setores da classe dominante capitalista financiaram as organizações por trás do ataque ao Capitólio, e até que ponto elas praticaram “astroturfing” (ou seja, financiamentos discretos para criar a ilusão de um movimento popular vindo de baixo) [4]? Qual era a proporção e relação exata entre os agentes de Estado e atores do Estado paralelo — ou seja, justiceiros — envolvidos [5]? Este foi unicamente um conflito orgânico entre apoiadores de Trump e Biden, ou havia algo a mais? A respeito disso é importante notar que a campanha publicitária que conduziu Biden ao cargo como o “salvador de nossa democracia” fortaleceu sua administração para quebrar inúmeras promessas de campanha e usar a invasão do Capitólio como um pretexto para o aumento da securitização, da vigilância e da criminalização de dissidentes (o que sempre foi usado para atingir a esquerda).

Enquanto investigações sérias e rigorosas vão precisar ser feitas para que estas questões sejam resolvidas, um complô fascista pouco conhecido para tomar controle do governo dos EUA nos anos 1930 traz à tona detalhes importantes sobre a história do fascismo doméstico e as manipulações clandestinas da burguesia. Apesar de haver diferenças significativas entre estes dois eventos, e analogias fáceis devam ser evitadas em nome de uma análise materialista precisa, o conhecimento sobre os detalhes deste complô do passado pode nos ajudar a entender melhor a relação entre a democracia burguesa e os movimentos fascistas na colônia de povoamento dos EUA.

Uma conspiração fascista comprovada nos EUA

Em 1934, a Comissão McCormack-Dickstein da Câmara dos Representantes dos EUA, depois de semanas de investigação, concluiu que “certas pessoas realizaram uma tentativa de estabelecer uma organização fascista neste país” [6]. A Liga Americana da Liberdade, como era conhecida, serviu como a força motriz por trás do que a mídia burguesa descreveu como um complô estrangeiro dos “interesses de Wall Street para derrubar o presidente Roosevelt e implantar uma ditadura fascista, apoiados por um exército privado de 500.000 ex-soldados e outros” [7]. Apesar dos conspiradores terem falhado, por conta de uma considerável força do movimento comunista nacional e internacional, e pelo apoio popular ao New Deal, a Comissão McCormack-Dickstein chegou a uma conclusão clara: “não há dúvidas que estas tentativas foram discutidas, planejadas, e poderiam ter sido executadas quando e se os apoiadores financeiros as considerassem convenientes” [8].

Consta nos registros públicos que um golpe de Estado fascista foi planejado nos EUA. O fato de poucas pessoas terem ciência desta realidade serve como um lembrete macabro do poder da história burguesa, através das escolas e da mídia, para eliminar — ou ao menos censurar — os registros históricos, desse modo fazendo-se acreditar que o fascismo está distante, ou até mesmo propagar a ideia evidentemente falsa de que o fascismo “não consegue acontecer por aqui.” Este trabalho de reescrita da história começou, como veremos, com os esforços da própria Comissão McCormack-Dickstein para abafar evidências, diminuir suas descobertas e evitar perseguições.

De qualquer forma, está claro que houve, e ainda há, movimentos fascista nos EUA, e o “Complô dos Empresários” de 1934 é um exemplo de quando uma completa tomada do poder do Estado foi prevista por um dos principais segmentos da classe capitalista. Portanto, este evento está cheio de lições importante para a continuada luta socialista contra o fascismo e sua fonte: o capitalismo. O funcionamento interno deste complô tem muito a nos ensinar sobre as atividades conspiratórios da classe dominante, seus círculos internos e suas táticas, a atuação de seus lacaios bem pagos como líderes políticos, sua manipulação financeira e ideológica dos setores da população trabalhadora, com sua construção astuta de espetáculos políticos, seu vasto controle da imprensa, e sua produção e disseminação maliciosa da história pública. Isso também demonstra a importância crucial, na luta contra o fascismo, do movimento operário organizado, do projeto socialista internacional, dos ganhos táticos das massas dentro da democracia burguesa, do jornalismo militante por comunistas e aliados, e de uma análise materialista da democracia burguesa existente. Apesar da conjectura histórica ter mudado, estas lições são tão importantes hoje quanto foram nos anos 1930.

Contextos nacionais e internacionais

Para entender completamente este complô fascista, é necessário o situar dentro da luta de classes global. Nos anos 1930, o sistema capitalista estava cambaleando por conta das consequências drásticas da Grande Depressão e enfrentava a maior ameaça para sua existência com o surgimento e desenvolvimento bem sucedido do primeiro Estado socialista de trabalhadores na URSS. É neste contexto da crise material e ideológica da legitimidade capitalista que o grande capital industrial na Europa e nos EUA passou a apoiar movimentos fascistas como uma solução final para a luta de classes. Uma fração significativa da burguesia, e principalmente os grandes capitalistas industriais, esperavam ser capazes de financiar uma falsa revolução vinda de baixo a modo de enfraquecer o movimento operário, destruir a organização partidária comunista e definitivamente mudar a balança do poder entre trabalho e o capital a seu favor.

Como todos os outros países capitalistas no crash de 1929, os movimentos fascistas ganharam muita força nos EUA. Quando o fascismo italiano se apresentou no cenário mundial, muitos estadunidenses o reconheceram como uma versão europeia da Ku Klux Klan, a qual era parte de uma rede ainda maior de grupos de justiceiros anti-trabalho e organizações autoproclamadas fascistas como os Sentinelas da República, os Cruzados, a Legião de Prata da América, a Federação Germano-estadunidense, e os Amigos da Nova Alemanha. Em Fatos e Fascismo, o jornalista George Seldes examinou detalhadamente as semelhanças entre os movimentos fascistas do exterior e aqueles nos EUA, visto que em ambos casos o grande capital diretamente investiu em grupos políticos reacionários, e buscou mobilizar setores da sociedade civil para ideologias ultranacionalistas, racistas, imperialistas e anticomunistas que têm como finalidade servir aos interesses da classe dominante capitalista.

Veteranos de guerra empobrecidos foram os primeiros alvos da população, assim como na Itália, e a Legião Americana se tornou um dos apoiadores mais fortes do fascismo. Inaugurada em 1922, convidou Mussolini para quase todos suas convenções, e em 1925 o tornou membro honorário da Legião. Como um dos primeiros comandantes desta organização de veteranos, Alvin Owsley, explicou:

“a Legião Americana está pronta para proteger as instituições e ideais de nosso país como os fascistas lidaram com os destrutivistas que ameaçavam a Itália! […] A Legião Americana está lutando contra todos os elementos que ameaçam nosso governo democrático — Soviéticos, anarquistas, membros do IWW, socialistas revolucionários e qualquer outro ‘vermelho’” [9].

De fato, os vermelhos estavam envolvidos em expansivas organizações antifascistas e pró-trabalhadores, e muitos veteranos se envolveram na luta. Um evento particularmente significativo, o qual serve como um contexto essencial para os planos do golpe fascista, ocorreu em 1932. Entre 17.000 a 25.000 veteranos formaram uma Força Expedicionária do Bônus (BEF), ou “Exército do Bônus,” e marcharam em Washington exigindo que sua “compensação ajustada” por tempo de serviço fosse paga imediatamente. O Congresso votou em 1924 que os veteranos da Primeira Guerra Mundial receberiam um compensação por cada dia de serviço, mas o pagamento da maioria dos fundos foi atrasado até 1945. Sob o peso esmagador da Grande Depressão, os membros da BEF exigiam pagamento imediato e acamparam perto do Capitólio.

Felix Morrow, na época um repórter do jornal Novas Massas do Partido Comunista, providenciou um relato de testemunha ocular da luta de classe dentro do acampamento, o qual também foi discutido pelo Comitê Central do PCEUA em sua declaração de 1932 “Lições da Marcha do Bônus.” De um lado, havia os comunistas dentro da Liga dos Trabalhadores Ex-Militares (WESL), os quais tiveram um papel de liderança na Marcha Nacional da Fome em Washington em 1931. Ela proporcionou lideranças militantes para o movimento e aumentaram a demanda “pela completa igualdade para pessoas negras e a abolição de todo tipo de descriminação” [10]. Como muitos apontaram na época, a BEF e seus acampamentos eram inclusivos — em contraste gritante ao apartheid racial que caracterizava a sociedade estadunidense em geral e os militares — e cenas frequentes de fraternização entre veteranos brancos e negros podiam ser vistas [11].

Isso estava em perfeito acordo com a política do PCEUA a respeito da igualdade social e econômica, a qual foi apresentada em termos claros na mesma edição de O Comunista onde foram publicadas as “Lições da Marcha do Bônus”:

“O Partido Comunista luta pela união de toda a classe trabalhadora, negros e brancos, nativos e estrangeiros, homens e mulheres, adultos e jovens, os desempregados e empregados. O Partido Comunista não apenas luta pelos interesses de todos os trabalhadores, mas também pauta demandas especiais pelos interesses dos setores da classe de trabalhadores que sofrem discriminação — as pessoas negras, as trabalhadoras mulheres, etc” [12].

Do outo lado, se opondo aos defensores da igualdade, havia um grupo de “demagogos pequeno-burgueses”, de acordo com o PCEUA, que incorporavam “as tendências fascistas que se esforçavam para desviar a radicalização da pequena-burguesia” [13]. Eles eram liderados por Walter W. Waters, o superintendente de uma fábrica de frutas em conserva, o qual se aproximou de uma séries de policiais e agentes secretos [14]. Demonstrando a porosidade entre os agentes de Estado e do Estado paralelo em muitos movimentos fascistas e semifascistas, o grupo de Waters trabalhou em conjunto à força policial oficial, políticos e a imprensa capitalista para tentar — sem sucesso — tomar controle do movimento. Na realidade, o grupo tomou importantes decisões em consulta direta com o General Glassford, o superintendente do Departamento da Polícia Metropolitana do Distrito de Columbia.

Antecipando o que viria a ser posteriormente conhecido como COINTELPRO, diversas agências governamentais e de aplicação da lei estiveram espionando radicais, se infiltrando em suas organizações, e tentado cooptar demonstrações como parte de seus esforços para destruir movimentos comunistas e progressistas por quaisquer meios necessários. Dentre as agências estavam incluídas: a Divisão de Inteligência Militar do Exército (MID), o Escritório de Inteligência Naval, o Serviço Secreto, os “Esquadrões Vermelhos” nos departamentos de polícia da cidade, e o Serviço de Investigação do Departamento de Justiça [15]. Um dos principais caçadores de elementos subversivos na MID foi o confiável subordinado do General MacArthur, o Brigadeiro General George Van Horn Moseley, que “viu na inclusão de veteranos negros e brancos” na BEF “a prova viva de que comunistas ‘negros e judeus’ estavam planejando uma revolução” [16].

No que parece ter sido um ensaio geral para o “Complô dos Empresários” de 1934, Waters anunciou em 1932 que ele havia sido abordado por um grupo da elite rica que lhe ofereceram assistência financeira caso ele estivesse obstinado a transformar seus seguidores na BEF em um “Exército Fascista” permanente. Diretamente comparando essa potencial milícia de veteranos aos fascistas e nazistas, Waters explicou que eles seriam chamados de “Camisas Caqui,” e seu papel seria “estar entre a Constituição e as forças da anarquia [ou seja, os vermelhos]” [17].

Um dos defensores mais conhecidos dos veteranos, General Smedley Butler, que mais tarde desempenharia um papel fundamental no complô fascista, visitou o acampamento e expressou seu apoio à BEF (apesar de ter sido identificado pelo PCEUA como alguém ao lado dos reacionários). Depois do Congresso ter rejeitado as exigências da BEF, muitos de seus membros operários — principalmente aqueles galvanizados pela WESL — se recusaram a seguir a proposta do General Glassford para se retirarem, que mais tarde seria apoiada por Waters. O presidente Hoover então decidiu usar da violência estatal para esmagar o movimento, alegando que ele era “composto em sua maioria por comunistas e elementos criminosos” [18]. Ele conferiu esta tarefa desprezível à uma das estrelas em ascensão da organização militar dos EUA: o chefe do Estado-Maior do Exército Douglas MacArthur, seu jovem ajudante Dwight D. Eisenhower, e o Major George S. Patton. Depois de um ataque brutal com baionetas, gás lacrimogênio, e tanques, eles em seguida atearam fogo e destruíram o acampamento por completo [19].

A repercussão popular sobre o uso de extrema violência estatal contra o agrupamento diverso e de pessoas de vários países de veteranos pobres exigindo reparação ajudou na eleição de Franklin D. Roosevelt em novembro de 1932. Sob a pressão do movimento nacional dos trabalhadores e no contexto do crescente prestígio da União Soviética, FDR passou a implementar o New Deal na primavera de 1933. Este programa governamental buscou estabilizar a economia capitalista, favorecendo os interesses dos grandes negócios enquanto simultaneamente incluía provisões para as massas trabalhadoras a modo de evitar uma revolução [20]. Foi, resumidamente, um conciliação de classe que conteve importantes ganhos para certos setores da classe trabalhadora, enquanto protegia os principais interesses dos burgueses. FDR, por exemplo, recusou pagar o bônus para os veteranos, não se esforçou em criar uma lei contra o linchamento, e nomeou MacArthur novamente a chefe do Estado-Maior do Exército.

Socialistas militantes e comunistas já haviam se comprometido a dar uma resposta à crise da Grande Depressão por meio de extensas lutas organizadas, as quais incluíam movimentos de destaque contra os despejos, e estabelecimento de Conselhos de Desempregados por todo país, e uma onda intensa de greves que contaram com aproximadamente um milhão e meio de trabalhadores de várias indústrias em 1934 [21]. É neste contexto que um dos maiores segmentos da classe capitalista dos EUA, o qual tinha fortes laços com o fascismo e o nazismo, chegou à conclusão que uma ditadura fascista era a melhor solução para a crise.

Os conspiradores

Fundada em 1934, a Liga Americana da Liberdade era uma organização política composta inicialmente por membros da elite empresarial rica e figuras políticas notáveis que se opunham ao New Deal. Nela estavam, além de vários comandantes da Legião Americana, representantes das principais famílias da classe dominante, incluindo Morgan, DuPont, Rockfeller, Pew e Mellon [22]. De acordo com Jules Archer, ela formou “associações com organizações pró-fascistas, antitrabalho, e antissemitas” com o objetivo explícito de derrubar o New Deal e revogar as conquistas do povo trabalhador [23]. A Liga subsidiou “sentinelas abertamente fascistas e antissemitas da República e dos Cruzados, que incitados por seu líder, George W. Christians, consideravam linchar Roosevelt” [24].

Muitos dos líderes da Liga Americana da Liberdade eram democratas que anteriormente haviam apoiado DR mas se voltaram contra ele quando o mesmo começou a dar pequenos passos a caminho de atender aos interesses do povo [25]. Dentre seus diretores estavam Al Smith e John J. Raskob. Smith, que fora Governador de Nova Iorque e candidato a presidente pelo Partido Democrata em 1928, buscou a nominação presidencial democrática de 1932, mas foi derrotado por FDR. Raskob era um executivo financeiro da DuPont e da General Motors e também presidiu o Comitê Nacional Democrata de 1928 a 1932, sendo um dos apoiadores-chave de Smith na época. Eles se juntaram à Liga da Liberdade por meio de John W. Davis, o qual fora um candidato para presidente pelos democratas em 1924, depois serviu como primeiro presidente do Conselho de Relações Exteriores e trabalhou como um procurador representando algumas das maiores empresas estadunidenses, por exemplo, atuou como procurador-chefe da Morgan.

O tesoureiro da Liga era Grayson M.–P. Murphy, vice-presidente sênior da Guaranty Trust Company e fundador da G.M.–P. Murphy & Co., e também atuou no quadro de diretores da Anaconda Copper, Goodyear e Bethlehem Steel, dentre outras. Ele se destacava por ter sido “condecorado por Mussolini e fez um comandante da Coroa da Itália,” e ele foi responsável por uma parte expressiva do apoio financeiro necessário para criar a Legião Americana em 1919 [26]. Outras figuras importantes incluíam Sewell L. Avery (um assessor dos Cruzados), W.S. Carpenter Jr. (que tinha ligações com os interesses de DuPont e Morgan), Robert Sterling Clark (herdeiro da fortuna da máquina de costura Singer), e três membros da família DuPont (Irenee, Lammot e Archibald) [27].

A Liga montou um Comitê Executivo Nacional e um Conselho Consultivo Nacional feito pelos membros do alto escalão da indústria estadunidense. O pai de George H. W. Bush, Prescott Bush, que tinha relações próximas ao novo governo nazista da Alemanha, serviu como uma de suas principais conexões. De acordo com Michael Donnelly, “Dinheiro era canalizado pela Corporação Bancária da União liderada pelo senador Prescott Bush […] e a Brown Brothers Harriman liderada por Prescott Bush […] à Liga (e a Hitler, mas esta é outra história). Os conspiradores vangloriavam-se das conexões entre Bush e Hitler e chegaram até a alegar que a Alemanha havia prometido a Bush que lhe providenciaria o equipamento para o golpe” [28]. Muitos dos outros capitalistas por trás do complô tinham investimentos na Alemanha nazista e, de acordo com a análise detalhada de Christopher Simpson, “uma meia-dúzia de empresas-chave dos EUA — International Harvester, Ford, General Motors, Standard Oil de Nova Jersey, e DuPont — tornaram-se profundamente envolvidas na produção de armas alemã” [29].

A Liga contratou Gerald G. MacGuire, um funcionário da empresa de corretagem de Murphy, e um dos fundadores da Legião Americana, para viajar à Europa e estudar as várias formas de fascismo a modo de identificar qual modelo seria melhor aplicável aos EUA. Ele passou quatro meses em seu tour de pesquisa, explorando coisas como o uso dos veteranos pelos fascistas italianos como uma força importante mas muito mal paga para o movimento fascista, e a solução de Hitler para o desemprego na Alemanha (campos de trabalho forçado). Apesar de haver muito o que aprender com estes movimentos, e MacGuire de fato apoiava o uso de veteranos e a implementação do plano de Hitler para o desemprego nos EUA, ele encontrou o melhor modelo na Croix-de-Feu da França: uma organização fascista composta por em torno de 500.000 oficiais comissionados e não comissionados [30]. Já que cada oficial era o líder de outros dez, a Croix-de-Feu controlava a uma base eleitoral de aproximadamente 5 milhões de pessoas de acordo com MacGuire [31]. Ele explicou suas intenções de forma clara ao repórter Paul Comly French: “Precisamos de um governo fascista neste país […] para salvar a nação dos comunistas que querem destruir tudo que construímos na América” [32]. A modo de realizar este objetivo da classe dominante, ele estava convicto, junto a outros conspiradores, que eles precisavam de um carismático “homem em um cavalo branco” para servir como figura para o “movimento popular” secretamente financiado.

O complô

MacGuire considerava o General Smedley Butler o líder ideal para tal movimento, por conta de sua excelente reputação pública e seu amplo apoio entre os veteranos, mas seus financiadores também consideravam o General Douglas MacArthur, o Coronel Theodore Roosevelt Jr., o ex-comandante da Legião Hanford MacNider, e James E. Van Zandt (comandante nacional dos veteranos das Guerras Internacionais). O último comentou aos repórteres que “ele, também, foi abordado por ‘agentes de Wall Street’ para liderar uma ditadura fascista nos Estados Unidos sob o disfarce de uma ‘Organização de Veteranos’” [33]. Ele confirmou, também, que entraram em contato com os outros membros da organização militar citados acima a respeito do mesmo assunto. O apresentador de rádio e apoiador do fascismo, Padre Coughlin, disse que ele conhecia os planos sobre Butler seis meses antes da história sair na imprensa [34].

Além disso, aparentemente havia um complô paralelo e talvez sobreposto envolvendo o rico financiador Jackson Martindell e seus parceiros de Wall Street. De acordo com o testemunho censurado do Capitão Samuel Glazier diante da Comissão McCormick-Dickstein, o qual será discutido abaixo, Martindell entrou em contato com ele a respeito da possibilidade de liderar uma organização aos moldes nazistas para tomar o poder do governo estadunidense. O plano de Martindell era fazer com que Glazier prometesse trabalhos industriais para jovens trabalhadores brancos do sexo masculino em troca de formar uma organização, sob seu comando, que derrubaria o governo e estabelecesse uma ditadura. Quando isso fosse feito, judeus e mulheres seriam demitidos dos trabalhos na indústria para dar espaço aos recrutas fascistas. Martindell louvava Hitler em suas falas, o qual ele disse ter conhecido pessoalmente em uma viagem à Alemanha, e mostrou a Glazier uma faixa de braço com uma suástica que ele havia adquirido. Ele também compartilhou seus planos para a insígnia e a parafernália fascista a ser usada para a nova organização:

“Ao invés de uma suástica, era uma águia vermelha em um fundo azul com um ‘V’ sobrepondo a águia inteira, que representa os justiceiros americanos. Ele tinha uma bandeira também, que estavam fazendo e ele também me mostrou um cartão de filiação o qual se assinaria a modo de integrar esta organização particular. Na parte de trás deste cartão dizia algo como ‘eu juro defender a Constituição dos Estados Unidos e o presidente’ — coisas deste tipo — ‘E se livrar de todos os indesejáveis e criminosos.’ Nada era dito sobre quem eram os indesejáveis. Mas depois ele explicou que a palavra ‘indesejável’, neste sentido, se referia aos judeus” [35].

Voltando ao complô principal, o que os conspiradores da Liga da Liberdade estavam procurando era uma figura como Mussolini, a qual eles poderiam pagar discretamente por baixo dos panos para cumprir suas ordens ao mobilizar veteranos para um exército fascista que pressionaria o presidente Roosevelt a aceitar o líder escolhido por eles como um “secretário de assuntos gerais.” Sob o pretexto de que o presidente estava doente e precisaria de ajuda, os manipuladores a serviço de MacGuire planejavam forçar FDR a se tornar uma figura central simbólica, tal qual o rei da Itália, para deste modo ceder o poder ao líder autoritário dos conspiradores. De acordo com um depoimento posterior de Butler, MacGuire lhe disse que eles poderiam facilmente controlar a narrativa por terem a imprensa sob seu controle: “Você sabe, o povo americano vai engolir isso. Nós temos os jornais. Vamos começar uma campanha alegando que a saúde do presidente está debilitada. Todos vão perceber só de olhar para ele, e os americanos idiotas vão cair nessa em um segundo” [36].

MacGuire explicou a Butler que ele tinha $3 milhões disponíveis para o complô, e que ele conseguiria até $300 milhões de seus apoiadores se fosse necessário. Como contou ao repórter Paul Comly French, ele poderia “chegar a John W. Davis ou Perkins do Banco Nacional da Cidade, e inúmeras pessoas para conseguir” [37]. Robert Sterling Clark também garantiu a Butler que dinheiro não seria um problema porque ele pessoalmente estava “disposto a gastar $15.000.000 para salvar outros $15.000.000” [38].

Já que o governo havia recusado conceder as pensões aos veteranos ou qualquer coisa do tipo, o plano era usar parte deste dinheiro para lhes providenciar com as pensões a modo de os enganar e ganhar seu apoio para derrubar o governo. Quando Butler respondeu a MacGuire que disponibilizar as pensões requisitaria muito dinheiro, o último especificou que “vamos apenas ter que fazer isso por um ano, e então tudo estará bem novamente” [39]. O plano então era manipular os veteranos empobrecidos para criarem um espetáculo público que se apresentaria como algo organicamente populista, espelhando a Marcha do Exército do Bônus, e então os abandonar financeiramente assim que o poder estivesse nas mãos do novo líder fascista.

Os capitalistas conspiradores por trás de MacGuire também tinham planos concretos para armar seu exército de veteranos fascistas. Visto que DuPont tinha o controle das ações da Remington Arms Co., eles sabiam que eles poderiam facilmente obter uma vasta quantidade de armas em crédito [40].

Um dos principais segmentos da classe capitalista conspirava em usar seus recursos financeiros, a rede de operadores de elite, e o controle da mídia para contratar um líder carismático, erguer e armar uma milícia fascista de veteranos pobres, derrubar o governo eleito, e implantar uma ditadura fascista a modo de parar o New Deal e assim aumentar seus lucros. Se eles tivessem sido bem sucedidos, pode-se dizer que a história do século XX teria sido drasticamente diferente.

Complô fracassado, encobrimento quase bem sucedido

Rumores passaram a circular em Washington que “a Legião Americana iria encher o centro com um exército fascista que tomaria a capital [sic]” [41]. A comissão McCormack-Dickstein, a qual foi o primeiro Comitê de Atividades Antiamericanas, decidiu investigar. Apesar do General Butler ter realizado conversas contínuas com MacGuire e Clark, alegadamente a modo de aprender mais sobre seus apoiadores financeiros e seus planos, ele também estava ficando cada vez mais ciente — como as críticas dos comunistas apontavam na época — de sua função social como um gângster pago pelas classes capitalistas. Tendo já envolvido o jornalista Paul Comly French em suas conversas com os conspiradores a modo de ter uma testemunha confiável para seus depoimentos, Butler decidiu que era melhor ir a público com o complô e se pronunciar contra seus planos da tomada fascista do governo.

A comissão McCormack-Dickstein, em sua investigação, conduziu uma companha de fé no governo semelhante àquelas de outros comitês governamentais das democracias burguesas. Por um lado, ela se apresentou como um corpo de investigação objetivo com a intenção de chegar ao fundo do potencial golpe e encontrar qualquer conduta ilegal. Por outro lado, ela fez de tudo ao seu alcance para proteger os conspiradores, evitar investigações sérias das evidências, e afastar-se de qualquer crítica sistemática da organização capitalista. A respeito disso, ela:

  • Não convocou nenhum conspirador a testemunhar (com exceção de seu peão MacGuire), ignorando alegações contra a classe capitalista dominante e o alto escalão do Exército como um “mero boato” que não merecia investigação.
  • Censurou deste registro as partes mais reveladores dos depoimentos ouvidos, particularmente aquelas que apontavam os verdadeiros culpados e explicitamente nomeava as empresas, os interesses financeiros e os indivíduos envolvidos [42].
  • Tentou ideologicamente mudar o foco da audiência ao desviar sua atenção para a investigação de acusações que “alguns sindicatos de esquerda usaram um fundo de três milhões de dólares para ‘fomentar e continuar greves’” [43].
  • Não moveram nenhum processo contra os conspiradores.

De qualquer forma, as alegações de Butler de que havia uma conspiração fascista para tomar o governo foi confirmada pela comissão, a qual ouviu o testemunho que corroborava com estas informações do jornalista Paul Comly French e o oficial militar James E. Van Zandt. Apesar de MacGuire ter negado as principais acusações de conspiração, ao mesmo tempo em que admitia ter tido encontros com Butler, a Comissão “encontrou cinco fatos significativos que validam o testemunho de Butler” [44]. Em particular, MacGuire não soube explicar o que ele havia feito com todo o dinheiro que havia recebido [45]. A comissão também revelou evidências que refutavam inúmeras afirmações de MacGuire [46]. Então chegaram à conclusão que era de fato uma conspiração.

Entretanto, como o repórter George Seldes explicou, “a maior parte dos arquivos reprimiam toda a história ou a rebaixavam ridicularizando-a. Nem a imprensa mais tarde publicou o relatório da McCormack-Dickstein que apontava que cada acusação feita por Butler e corroborado por French foram provadas” [47]. Ao invés disso, a imprensa burguesa organizou uma vasta campanha de difamação contra Butler a modo de retratar seu testemunho como uma fraude ou uma invenção mentirosa.

É graças ao jornalista comunista John L. Spivak que temos acesso a uma transcrição mais completa dos testemunhos diante da comissão McCormack-Dickstein. Quando lhe deram permissão para estudar os documentos públicos da HUAC, lhe forneceram, aparentemente sem perceberem, os testemunhos sem censura entre as pilhas de outros arquivos. Em uma explosiva exposição em duas partes que ele escreveu ao New Masses do Partido Comunista em janeiro de 1935, a “Conspiração fascista de Wall Street,” ele revelou que a comissão congressual havia deliberadamente suprimido evidências e censurado o testemunho “porque os poderes financeiros por trás da comissão estão entre os apoiadores das organizações fascistas” [48]. Mais especificamente, ele demonstrou que a Liga Americana da Liberdade era controlada pelos interesses da DuPont, “os quais estavam ligados com os interesses de Morgan e os interesses de Morgan estavam ligados com os interesses de Warburg e os interesses de Warburg controlavam a Comissão Judia Americana a qual guiou o corpo do congresso” [49].

Apesar de toda a evidência levar à clara conclusão da comissão, nenhum processo foi movido contra os conspiradores. “Influências poderosas,” escreveu Jules Archer, “foram obviamente usadas para abreviar as audiências, parar as intimidações contra todas as figuras importantes envolvidas, e dar fim à comissão” [50]. Robert Baldwin, diretor da União Americana pelas Liberdade Civis na época, publicou uma declaração nervosa que sublinhava a natureza hipócrita deste resultado:

“A investigação do Comitê Congressual de atividades antiamericanas acabou de noticiar que um golpe fascista para tomar o governo… foi comprovado; mesmo assim, nenhum participante será indiciado por integrar uma conspiração federal, tornando este um crime grave. Imagine se tal complô fosse descoberto entre os comunistas! Isso claramente enfatiza a natureza de nosso governo como representante dos interesses dos detentores da propriedade privada. Violência, mesmo em um golpe, é perdoável quando feita por aqueles cujos objetivos é preservar o sistema do lucro” [51].

Capitalismo gângster nacional e internacional

O fracasso do complô fascista para tomar o poder de Estado dos EUA marcou uma clara vitória para o povo trabalhador, assim como para todos que lutaram e se beneficiaram com o New Deal. Ele falhou, nas palavras de John L. Spivak, não apenas porque “os conspiradores foram incrivelmente incompetentes ao escolher [Butler],” mas também por “lhes faltar um entendimento básico do povo e das forças morais que lhes ativam” [52]. Esta falha, entretanto, não sinalizou um fim ao apoio da classe capitalista aos movimentos fascistas, tanto nacional quanto internacionalmente.

Butler se radicalizou através desta experiência, inspirado dentre outras coisas pelas ações corajosas dos militantes do Exército do Bônus, e ficou cada vez mais desanimado com a reação dos capangas dos capitalistas. Enquanto ele começava a enxergar a situação e reconhecer — pelo menos implicitamente — a justeza da análise comunista, ele se pronunciou contra a política econômica de guerra, reconhecendo que um segundo grande conflito internacional era eminente.

No começo de 1931, ao palestrar para a Legião Americana, e aparentemente não ser levado a sério pelos seus manipuladores, Butler percebeu que seu papel no exército não o levou a lugar algum além de apenas servir como um gângster global para a classe capitalista:

“Eu passei trinta e três anos e quatro meses em serviço militar ativo, e durante este período eu passei a maior parte do meu tempo sendo um braço armado para a alta classe das grandes empresas, de Wall Street e dos banqueiros. Em resumo, eu era um criminoso, um gângster para o capitalismo. Eu ajudei as empresas americanas de frutas em Honduras em 1903. Eu ajudei a purificar a Nicarágua para a Casa Bancária Internacional dos Irmãos Brown em 1902-1912. Eu ajudei a tornar o México e principalmente Tampico lugares seguros para os interesses do óleo americano em 1914. Eu trouxe luz à República Dominicana para os interesses do açúcar americano em 1916. Eu ajudei o Haiti e Cuba se tornarem os lugares certos para os membros do Banco Nacional da Cidade para coletarem suas receitas. Eu ajudei no estupro de meia dúzia de repúblicas da América Central para o benefício de Wall Street. Na China em 1927, eu ajudei a Standard Oil a passar sem enfrentar dificuldades. Olhando para isso, eu devo ter dado algumas dicas para Al Capone. O melhor que ele pôde fazer foi operar em três distritos. Eu operei em três continentes” [53].

Por isso, enquanto uma ditadura fascista foi evitada em seu território, e o movimento dos trabalhadores continuou a ter vitórias significativas dentro da democracia burguesa, a máquina de guerra imperial dos EUA continuava suas operações no exterior, e a parceria público-privada para destruir violentamente as organizações comunistas continuaram junto com as leis Jim Crow a nível nacional, sendo apoiadas e tendo como cúmplices a Ku Klux Klan e outras organizações fascistas e semifascistas. Evitar um golpe de Estado e forçar a organização política a realizar uma conciliação de classe com o New Deal foi uma grande vitória para muitos trabalhadores, e deveria ser reconhecida como tal. Enquanto o sistema capitalista existir, entretanto, ele vai continuar a recorrer a movimentos fascistas e regimes ditatoriais como sua principal arma na luta de classes. Eles só serão eliminados de uma vez por todas quando sua raiz for destruída: o capitalismo.

Essa incursão pela história do fascismo estadunidense, provendo uma perspectiva importante sobre a invasão do Capitólio como nosso ponto de partida, não deve levar à conclusão falaciosa que o fascismo dos anos 1930 é idêntico às suas formas do século XXI, ou que há uma analogia estrita entre o “Complô dos Empresários” ao 6 de janeiro. Entretanto, o projeto de trazer essa história do fascismo à tona, a qual faz parte dos registros públicos, é importante para compreender a variedade das táticas que a burguesia usa para tentar manter, a qualquer custo, sua habilidade de acumular às custas das classes trabalhadoras. Este conhecimento histórico pode nos ajudar a nos orientarmos em nossa luta presente e futura.


Referências

[1] Ver, por exemplo, o relatório da NPR “Nearly 1 in 5 Defendants in Capitol Riot Cases Served in the Military.” 21 de janeiro, 2021 <https://www.npr.org/2021/01/21/958915267/nearly-one-in-five-defendants-in-capitol-riot-cases-served-in-the-military> e Liberation News. “Unmasked at Last: All Seattle Cops at Fascist Jan. 6 Rally Have Been Identified.” 30 de abril, disponível aqui.

[2] Ver “Proud Boys Leader Enrique Tarrio Was na FBI Informant.” The Guardian (27 de janeiro, 2021), disponível aqui; e Associated Press. “FBI Enlisted Proud Boys Leader to Inform on Antifa, Lawyer Says.” NBC News (31de março, 2021), disponível aqui.

[3] Ver Committee on Homeland Security and Governmental Affairs / Comitte on Rules and Administration. Examining the US Capitol Attack: A Review of the Security, Planning, and Response Failures on January 6. Disponível aqui.

[4] Traçando as origens da invasão do Capitólio aos protestos contra o lockdown que o antecederam, Vanessa Wills apresenta o seguinte argumento: “Os manifestantes contra o lockdown encontraram aliados nos setores mais conservadores e reacionários da “grande” burguesia, com ligações às famílias DeVos e Kich e o financiamento de organizações como a Convention of States — inaugurada com o dinheiro do extremista republicano Robert Mercer. Muitos dos manifestantes foram organizados pelos Dorr Brothers, marqueteiros com experiência que criaram um pequeno modelo de negócios através da fúria de conservadores e da coleta de dados de petições assinadas que eles em seguida vendiam para campanhas políticas” (Vanessa Wills. “From de Lockdown Protests to the Capitol.” N+1 (29 de janeiro, 2021), disponível aqui. Ela também explica, no mesmo artigo, que “As figuras chave do ataque ao Capitólio parecem ser donos de pequenos negócios, oficiais militares e policiais, famílias de políticos, e uma galeria de bandidos familiares de pequenos golpistas e vândalos de extrema direita uniram-se à escória da Festa do Chá.”

[5] Mike German, um ex-agente do FBI e um membro acadêmico do Centro Brennan pela Justiça, indicou que alguns dos envolvidos no ataque ao Capitólio participaram em incidentes parecidos em anos recentes e foram filmados inúmeras vezes. “Sabemos seus nomes, conhecemos suas histórias criminosas,” ele disse, “Eles fazem isso porque a polícia sempre os deixou fazer. Eles fazem isso porque o FBI sempre os deixou fazer” (citado em Jason Wilson. “How US Police Failed to Stop the Rise of the Far Right and the Capitol Attack.” The Guardian (17 de janeiro, 2021), disponível aqui.

[6] Citado em Seldes, George (1947). 1000 Americans. New York: Boni & Gaer, 290. O fascismo é entendido aqui como a prática política contrarrevolucionária das organizações reacionárias da classe capitalista bancária que usa os meios de comunicação e propaganda de massa para mobilizar a sociedade civil, a qual encontra-se em uma situação precária ou sente-se vulnerável, sob uma ideologia nacionalista, racista e colonial de rejuvenescimento espiritual a modo de destruir os movimentos de trabalhadores e dar início a uma guerra de conquista lucrativa. É, entretanto, como eu expliquei em outro lugar, um conceito da luta de classes cuja forma precisa e conteúdo necessitam de uma conjectura material e escala de análise específica (ver Rockhill, Gabrial. “Fascim: Now You See It, Now You Don’t!” Counterpunch (12 de outubro, 2020) disponível aqui.

[7] “Gen. Butler Bares ‘Fascist Plot’ to Seize Government by Force.” New York Times (21 de novembro, 1934). Esta história de primeira página alinha as alegações supostamente escandalosas, cuja base probatória não é apresentada aos leitores, com as declarações dadas por um coro de seis magnatas de negócios e oficiais militares a respeito do complô (cinco delas são citadas na primeira página do artigo, e a última o encerra). Todos repetem o mesmo mantra, o qual é amplificado por este artigo e outros na imprensa burguesa: as denúncias de Butler é uma fraude evidente e suas alegações são “indescritivelmente ridículas demais para se comentar sobre!”

[8] Citado em Seldes, 1000 Americans, 290.

[9] Citado em Seldes, George. (2009). Facts and Fascism. Joshua Tree, CA: Progressive, 2009, 109.

[10] Comitê Central do PCEUA. “Lessons of the Bonus March.” The Communist XI:9 (setembro, 1932): 789. Uma avaliação de inteligência corroborou com estas alegações (ver os relatórios sobre a Marcha do Bônus disponível no espaço de leitura eletrônica do FBI aqui).

[11] Isso foi bem documentado por meio de fotografias e filmes da época, alguns dos quais podem ser vistos no documentário do PBS The March of the Bonus Army aqui.

[12] Editorial do PCEUA (1932). “The Fight Against the Capitalist Offensive and the Unity of the Employed and the Unemployed.” The Communist XI:9 (setembro 1932): 779-780. Em Hammer and Hoe, Robin D. G. Kelley apresenta uma análise detalhada sobre a militância antirracista do PCEUA e explica como “o predomínio de pessoas negras no PC o fez ganhar o epíteto de ‘partido dos pretos’ no Sul” (Kelly, R.G.D (2015). Hammer and Hoe: Alabama Communist during the Great Depression / Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 92).

[13] Comitê Central do PCEUA, “Lessons of the Bonus March,” 795.

[14] Ver Felix Morrow. “The Bonus Army.” New Masses (agosto 1932): 4.

[15] Para um debate sobre uma série destas atividades, ver Dickson, P. e T. B. Allen (2004). The Bonus Army: An American Epic. Nova Iorque: Walker & Company. Alguns dos relatórios da inteligência, memorandos e outros arquivos estão disponíveis no espaço de leitura eletrônica do FBI na nota 10.

[16] Dickson e Allen, The Bonus Army, 7.

[17] Felix Morrow, “The Bonus Army,” 6.

[18] Comitê Central do PCEUA, “Lessons of the Bonus March,” 798.

[19] Ver Z., Mickey (2005). “The Bonus Army” em Fifty American Revolutions You’re Not Supposed to Know. Nova Iorque: Disinformation Books, 57-60 (disponível aqui). O WESL e a Liga da Juventude Comunista esteve emitindo folhetos para as forças armadas, fraternizando com os soldados, e os convocando para se recusarem a irem contra o BEF. Estes esforços claramente surtiram efeito quando uma parte da Marinha se recusou a ir contra o Exército dos Bônus (ver Comitê Central do PCEUA, “Lessons of the Bônus March,” 798-799).

[20] O Ato de Recuperação Econômica favoreceu os interesses dos grandes negócios, assim como a Administração do Ajustamento da Agricultura favoreceu o funcionamento da grande agricultura. Georgi Dimitroff e Anna Rochester apresentaram importantes críticas sob a ótica comunista sobre o New Deal na época, ao passo que reconheciam a importância de defender os ganhos dos trabalhadores dentro da democracia burguesa. Ver Dimitroff, Georgi. “The Thread of Fascism in the United States.” The Communist (outubro 1935): 903-910 e Rochester, Anna. “Finance Capital and Fascist Trends in the United States.” The Communist (junho 1936): 523-536.

[21] Ver Zinn, Howard. (2003). A People’s History of the United States. Nova Iorque: HarperCollins Publishers, 396.

[22] Ver Archer, Jules. (2015). The Plot in the White House: The Shocking True Story of the Conspitacy to Overthrow F.D.R. Nova Iorque: Skyhorse Publishing, 160. Para uma lista detalhada dos “Subsidiários da Reação Americana,” a qual inclui a quantia de suas contribuições às organizações fascistas e semifascistas, ver Apêndice 22 em Seldes, 1000 Americans, 292-298.

[23] Archer, The Plot to Seize the White House, 160.

[24] Ibid. 201.

[25] Ver o documentário The Plot to Overthrow FDR. Disponível aqui.

[26] Seldes, Facts and Fascism, 113.

[27] Para mais detalhes, ver Rochester, Anna. “Finance Capital and Fascist Trends in the United States” e Wolfskill, George. (1962). The Revolt of the Conservatives: A History of the American Liberty League, 1934-1940. Boston: Houghton Mifflin.

[28] Michael Donnelly, “Wall Street’s Failed 1934 Coup.” Counterpunch (2 de dezembro, 2011) aqui: “Esta acusação”, Donnelly escreve, “foi totalmente crível: no ano anterior, o presidente da Chevrolet William S. Knudsen (o qual havia doado $10.000 para a Liga) foi à Alemanha e se encontrou com líderes nazistas e ao retornar declarou que a Alemanha de Hitler era “um milagre do século XX.” Na época, a GM, que já pertencia inteiramente à Adam-Opal Co., já tinha começado a produzir os tanques, caminhões e motores de bombardeiros nazistas. James D. Mooney, vice-presidente da GM para operações estrangeiras se juntou a Henry Ford e o chefe da IBM Tom Watson para receberem a Grã-Cruz da Águia Alemã de Hitler por seus expressivos esforços pelo Terceiro Reich.”

[29] Simpson, Christopher. (1995). The Splendid Blond Beast. Monroe, Maine: Common Courage Press, 64.

[30] Para uma análise detalhada de porque a Croix-de-Feu deveria ser entendida como uma organização fascista, ver Irvine, W.D. “Fascism in France and the Strange Case of the Croix de Feu.” The Journal of Modern History 63:2 (junho 1991): 271-295 e Soucy, R.J. “French Fascism and the Croix de Feu: A Dissenting Interpretation.” Journal of Contemporary History 26:1 (janeiro 1991): 159-188.

[31] Archer, The Plot to Seize the White House, 153 (ver também 177).

[32] Ibid. 164. Um dos planos de MacGuire era “registrar todas as pessoas do país” a modo de parar os agitadores comunistas (ibid. 166).

[33] Ibid. 176 (ver também Seldes, Facts and Fascism, 113).

[34] Ver Magill, A. B. “Father Coughlin’s Army.” New Masses (1 de janeiro, 1935), 12.

[35] O relatório final da comissão McCormack-Dickstein, incluindo as longas seções que foram deletadas dos arquivos congressuais mas recuperadas pelo jornalista John L. Spivak (ver abaixo), está disponível online aqui. O que fora apagado está em vermelho, e ela inclui quase que todo o testemunho de Glazier.

[36] Archer, The Plot to Seize the White House, 155. Sobre o controle capitalista da grande mídia estadunidense na época, ver Facts and Fascism de Seldes.

[37] Archer, The Plot to Seize the White House, 165.

[38] Ibid. 157.

[39]  Ibid. 158.

[40] Ver ibid. 161.

[41] Ibid. 135.

[42] Ver Seldes, Facts and Fascism, 113.

[43] Archer, The Plot to Seize the White House, 177. Em 24 de novembro, 1934, o New York Times publicou a chamada “Fundos dos Sindicatos Vermelhos Rastreados em Audiência” enviesando o trabalho da comissão para caluniar os comunistas, que estavam supostamente usando a exata mesma quantia de dinheiro ($3 milhões) discutida por Butler para financiar greves nas indústrias de peles e roupas. No corpo do artigo, nenhuma referência é feita à corrente investigação de MacGuire da comissão, e evidências muito inconsistentes são citadas a favor de sua versão dos fatos e contra os de Butler. A impressão imediata para o leitor era clara na época: são os comunistas que usam milhões de dólares por baixo dos panos para manipular os políticos, não os capitalistas.

[44] Archer, The Plot to Seize the White House, 168.

[45] Ibid. 168.

[46] Ver ibid. 182.

[47] Seldes, Facts and Fascism, 114.

[48] Spivak, J. L. “Wall Street’s Fascist Conspiracy.” New Masses (29 de janeiro, 1935), 9.

[49] Ibid. 15.

[50] Archer, The Plot to Seize the White House, 197.

[51] Citado em ibid. 197.

[52] Spivak, J. L. (1967). A Man in His Time. Nova Iorque: Horizon Press, 302, 298.

[53] Citado em Butler, Smedley. (2013). War is a Racket. Nova Iorque: Skyhorse Publishing, 16-17. Como ele mais tarde explicaria em seu clássico antiguerra de 1935, ele começou a suspeitar de seu papel no sistema mundial ainda enquanto soldado, mas foi apenas quando se aposentou e passou a ter uma vida de cidadão que ele entendeu por completo que ele também foi um fiel servo do império, que dedicou sua vida para os ganhos financeiros da classe dominante: “A guerra é uma fraude. Sempre foi. É possivelmente a mais velha, facilmente a mais lucrativa, e com certeza a mais viciante. É a única em âmbito internacional. É a única em que os lucros são contados em dólares e os prejuízos em vidas. Eu acredito que a melhor descrição de fraude é algo que não é o que parece para a maior parte das pessoas. Apenas um pequeno grupo “interno” sabe sobre o que se trata. É conduzida para beneficiar os poucos, às custas dos muitos. Com a guerra, poucas pessoas fazem fortunas” (ibid. 25).

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