Por Agustín Cueva, traduzido por Lorena Duailibe
“Não se pode esquecer que a discussão atual no seio da esquerda latinoamericana não passa pela fronteira fictícia entre uma corrente supostamente democrática e outra que não a seria (a denominada “leninista”); a diferença real se dá entre uma tendência que trata de congelar as aspirações das massas fixada pela democracia burguesa, e outra que não nega a democracia mas que busca elevá-la a níveis revolucionários. Para esta última, o problema não é obviamente o da democracia seca, senão de como incorporar a maior quantidade de democracia para o povo no processo de transformação radical da realidade.
A Internacional Comunista e os partidos nacionais
A ideia de uma dependência absoluta dos partidos comunistas (PC) latinoamericanos com respeito à Internacional Comunista (IC) foi sustentada por três fontes muito diferentes: a) o imperialismo e as classes dominantes em geral, b) o movimento trotskista e c) alguns PC. Que as forças compreendidas no primeiro usem essa tese é mais compreensível: se trata de apresentar os PC e grupos afins como organizações externas à realidade nacional, e o próprio marxismo como “ideologia estrangeira”. Igualmente se entendem as razões dos trotskistas; é uma maneira de atribuir todas as limitações e eventuais erros da esquerda realmente existente (a outra, imaginária, é por definição imaculada) a Stalin e a IC.
É impressionante, no entanto, que certos PC sustentem teses parecidas, mas tal assombro se dissipa ao observar que não por azar são aqueles partidos que não lograram a classe operária e em geral populares de seus respectivos países. Culpar disso a IC – dissolvida há mais de quarenta anos – resulta em algo tão fácil quanto irresponsável.
Que a filiação à IC não determinava de maneira fatal o destino dos PC parecia uma evidência em si. Somente pensando na trajetória de três partidos asiáticos hoje no poder, o chinês, o vietnamita e o coreano, se percebe a imensa distância que os separa de seus homólogos latinoamericanos, todos membros, no entanto, da IC. Os asiáticos estiveram claramente mais perto desta organização que os latiamericanos, mas isso não foi óbice para, por um lado, nacionalizarem profundamente seu marxismo – para o bem ou para o mal – e, por outro, seguissem entre si vias muito distintas. A experiência de Mao, sobretudo a partir de 1935, comprova ademais a seguinte hipótese: não é que alguns PC tenham sido – e às vezes seguem sendo – fracos porque a IC lhes impulsionou determinada linha política; ao contrário, foi na medida em que eram fracos e carentes de enraizamento popular que uma linha “exterior” parecia impor-se-lhes. Mao pode divergir de Stalin porque se movia, segundo sua metáfora, “como peixe na água”.
Para o caso da América Latina não é supérfluo recordar que também existem diferenças muito notáveis no desenvolvimento