A ingenuidade da razão: uma reflexão sobre a Razão, os Afetos e a Política

Por Bruno Henrique

Os acontecimentos recentes pela decisão do novo chefe de Estado do País mobilizam a atenção de cidadãos, da imprensa, e politólogos de plantão. Ao fim e a cabo o que se pretende? Que a Razão possa dar uma explicação suscinta que responda fatalmente ao resultado do pleito eleitoral. Quanto a isso, ao que parece, nenhuma novidade. A Razão compete estabelecer um nexo, um fio racional que permite dar compreensibilidade aos fatos, aos acontecimentos. Ocorre que, como já apontado por Freud e pela psicanálise, via de regra o discurso racional faz as vezes de mera justificação de desejos e vontades, onde a Razão vem a cobrir, como em um manto, dando o respaldo formalista e encobrindo o que move as coisas na mais profunda intimidade. Nesse interim, interessa olhar dois aspectos absolutamente fundamentais do que pode ou não pode a Razão : i) o quanto a reação ao pleito está no marco da Razão ou, ao contrário, está permeado de emoções e afetos, e qual sua causa; e ii) diante da prorrogação do resultado final do pleito, como uma certa prática de “convencimento” se inspira numa crença que é falsa, que se erige na “Ingenuidade da Razão”, e diante disso, o que permitiria ter em vista adesões e contra-adesões a projetos políticos divergentes.


Visto sob o impacto dos acontecimentos recentes, mais especificamente, o resultado do pleito eleitoral 2022 no 1º turno, se seguem muitas coisas em consequência. Algumas delas nos interessam aqui. De imediato se dá uma certa “triste surpresa”, quando não, uma completa decepção. Diante desse estado atônito, pergunta-se como que isso pôde acontecer; depois de maldizer a realidade, à qual nossa Razão não foi capaz de perceber adequadamente, segue-se, no mais das vezes, um Ressentimento em relação a todos em volta que divergem, seja lá quais forem os motivos. O ressentimento se explica nisso, invalida qualquer raciocínio ou mesmo percepção mais atenta dos fatos, posto que tal afeto macula nossas vistas exteriores ou interiores. Mesmo assim, a Razão prossegue. Ou tenta prosseguir. Após ficar estupefata de suas previsões (melhor ou pior embasadas, ou seja, documentadas) não serem confirmadas, ela procura se orientar novamente, e busca compreender um eixo.

Quando não prevalece o puro cinismo como modus operandi de negar todos os fatos a outros e não se importar com nada além de que a realidade meramente confirme os desígnios interiores – nada de um purismo individual, mas socialmente produzido – que a bem dizer configura um dos pólos dessa disputa, há, do outro lado, uma reunião de diversos elementos que, a bem dizer, tem sua ligadura, sua unidade, frágil que seja, por uma acórdão superficial típico de um governo socialdemocrata que pode se expressar sinteticamente em um governo para os ricos, ainda que com certas benesses aos explorados; ou seja, um governo de conciliação de classes, que apenas aprofunda as contradições sociais existentes enquanto procura conciliar a própria luta de classes, levando a um acordo sempre frágil e sempre crítico : apenas posterga e amplifica o mal estar e antagonismos sociais. Diante de tal impasse, solução alguma está posta na ordem do dia. Duas gerências, com diferentes problemáticas sócio-gerenciais. Quanto a um projeto de luta de classes, esse dormita ou se evadiu do grande campo político – quando não se julga que seja mera extravagância dar nome aos bois. Sob este cenário que tal disputa ao pleito se configura. Não ignorá-lo ajuda a entender os marcos e limites que engendram o próprio resultado posto.

Sob a duração do ressentimento como resultado imediato do pleito, uma perigosa reação se instala na ala social-oportunista diante da ala cínica : haja visto que a ala cínica joga baixo, não importando a verdade, não importando as regras, não importando nada além da vitória custe o que custar, o social-oportunismo que discursa em nome da democracia entende que o adversário, ou melhor, inimigo, que está na presidência, o está porque joga baixo e entende o funcionamento do aparato, e nisso, enquanto o ressentimento correr nas veias, almeja-se agir tal como o inimigo, pois o que interessa é o próprio posto. Simbiose de método. Mimesis. Imitatio. Imitação que expressa algo fundamental : há um princípio de correspondência de violência e gangsterismo apesar da sua coloração política. Ex nihilo nihil fit. Nada surge do nada. Tal desejo indique tanto um pouco do ódio legítimo ao cinismo que des.governa o País, como também indica que em certa medida trata-se de uma só coisa : o aparato. Não de política. Muito menos de visar a liberdade. Mas tão só o aparato. E nisso cabe a consideração ? Ressentimento revela o que já estava dado ou contamina o estado de ânimo ? Pessoalmente, penso que (um pouco de) ambos. Como nada surge do nada, há sim já algo em latência que se expande, algo que já existindo, nem sempre prepondera, mas que sob certas condições, devidamente alimentada, avança, se sobressai e quer mais e mais alimento – tal qual um animal faminto que não come a muito e que fora parcamente alimentado e que tem na sua fome o índice de sua voracidade.

Contudo, passado o pleito, após o Ressentimento se esvair ou diminuir sua intensidade, a Razão quer compreender o que se passou, onde errou, como as coisas vão acontecer. Ora, nem sempre a Razão tira uma lição de sua própria experiência de despossessão. Ela que quer a tudo governar, se encontra interditada, onde sob certos acontecimentos e certo ânimo, a Mente não consegue pensar direito. É o caso do Ressentimento, por exemplo. Isso se dá por uma certa concepção equívoca (para não dizer uma ignorância) tanto de Razão quanto dos Afetos. E também de Política. A Razão a tudo busca compreender, a tudo quer enquadrar, mas a própria capacidade de pensar e raciocinar estão em íntimo vínculo com o Corpo, e em consequência, com a Vida. Emoções, ou propriamente Afetos, são uma das dimensões de uma unidade psicofísica do que se passa no Corpo e na Mente, duas expressões diferenciadas de uma mesma coisa[1]. E como somos guiados pelo Desejo e este se funda em uma pletora de ideias, impressões e imagens [que poderíamos convencionar em chamar, tal como Espinosa, em Imaginação]. Como desejar é apetecer uma infinidade de coisas, seja pela ausência de algo que apetecemos, seja pela afirmação de algo que somos ou pertencemos, ou até seu compartilhamento, importa que a Vida em seu conjunto se estrutura como tramas de desejos. A Razão, ela própria, no seu raciocinar, como uma potência própria da Mente (como nos mostra por exemplo, a Matemática), não se faz no vazio. Mas a partir de um Corpo. Corpo que vive, que sente, que vive todos os Afetos. Uma razão mais potente é uma razão que conhece, e não que ignora, os seus Afetos constituintes. A Razão que se postula como autárquica é mais o seu próprio Desejo que sua realidade pura e simples. Autarquia tanto cognitiva quanto política. O que nos leva a considerar que a Política, tal como advertiu Marilena Chauí, é o campo das paixões e afetos. Posto que a política é menos a decisão do melhor, como poderia ser imaginado a toda pessoa que lê os manuais de filosofia e história que concebem a política gregariamente como espaço da deliberação política a partir do Justo, do Bom, etc.; cabe considerar que numa leitura não-ingênua, ou seja, meditada, reflexiva, o próprio campo da ágora e da praça pública relatada nos livros didáticos, e como também aparece nos Diálogos de Platão, são plenos de contrariedades que os discursos afirmam, mostrando, como enfatizou Aristóteles, que no plano da Política vigora a arte retórica[2], ou seja, o discurso que move, que convence, ou seja, se movimenta no universo das paixões e dos afetos que mobilizam nossa deliberação (tida no mais das vezes por exclusivamente racional). Com isso fica patente que a reação ao pleito é uma questão de Afetos, e a sua causa se dá na sua própria materialidade, e que a Razão que se estiola diante dos fatos é uma razão que não compreendeu os próprios fatos, e que da ignorância de sua própria ignorância (ou seja, da Razão que não conhece o quão os Afetos afetam) resulta um vociferar contra o que a Razão não foi capaz de compreender, e seu corolário, a prepotência de uma razão ingênua.

Diante desse impasse, o drama se aprofunda. Um drama trágico – se entendermos que toda tragédia é anunciada, e no seu tom de destino, está apenas a mera sequência dos fatos que se encadeiam uns aos outros como causas e seus precisos efeitos. Talvez a tragédia seja essa: as coisas estão aí na nossa cara e não prestamos a devida atenção. Por isso tanta arte fora implementada, para nos reabituar a olhar, a perceber. Como que, por lentes embaçadas, precisássemos reabituar os olhos, pois não basta, como disse Saramago, ter olhos para ver: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”. Seja como for, muitas consequências podem, e ouso, devem ser tiradas dos acontecimentos. Uma delas se refere que, se a Razão compreender-se como intimamente relacionada com os Afetos que constituem nossa Vida, poderemos entender o quanto certas adesões a este ou aquele projeto político, a esta ou aquela doutrina, a este ou aquele interesse dá-se sob a marca do Desejo. E este, sempre se reporta a um certo modo de vida. Na sua desconsideração, as coisas são má compreendidas, e julgadas equivocadamente, produzem mais preconceitos e prejuízos (na múltipla acepção do termo) do que um sólido juízo não só válido, mas verdadeiro. Algo que denota este equívoco e seus prejuízos é uma certa prática que se institui no campo político e que tem plena discursividade na atual conjuntura, de um convencer, que atende pelo famoso “ganha voto”. Vejamos mais de perto.

O problema da suposta eficiência do ato de convencer por meio da razoabilidade e do bom senso que apela à Razão se funda em três ignorâncias, que se enraízam mutuamente. A saber : i) a ignorância das escolhas e adesões como expressão de um Desejo; ii) a ignorância das condições do juízo que leva ao prejuízo e preconceito (praejudicia); e iii) ignorância do elemento vital da dinâmica afetiva que move efetivamente as escolhas e como essa ignorância produz seu corolário na Razão, ou seja, a ingenuidade de que bastaria os argumentos certos e verdadeiros para que a pessoa “abandone o errado pelo certo”, isto é, uma Razão Ingênua.

De imediato, a própria experiência atesta que nossas escolhas são movidas pelos Afetos que temos para com as coisas, por marcas afetivas que nos dispõem ou predispõem a isso ou aquilo. E que aderir a isso ou aquilo envolve uma consideração pelo Desejo. Logo, ignorar a dinâmica desejante e afetiva faz com que se ignore que somos seres desejantes[3], levando a crença, falsa como se pode depreender, da superioridade da Razão, advogada desde os primeiros filósofos e pensadores e que alicerçam, ainda hoje, as mais variadas alusões e alegorias do elevado e do baixo no humano. Toda reflexão vista sob o prisma da expressão pode ver e conceber positivamente o conhecimento afetivo quanto o conhecimento racional. E mais, vista sob esta perspectiva, pode-se conceber que escolhas e decisões se pautam não numa abstrata consideração do Melhor, mas numa concreta situação que faz que tal ou qual escolha expresse um certo modo de vida. E mais. Que se tenha ou que se queira ter. Isso explica suficientemente como de forma disparatada, pessoas escolhem o pior, seguem algo que vai contra si mesmas, onde ao invés de sua salvação, seguem a sua destruição, sem serem conscientes deste processo, ao contrário, porque a ignoram é que segue a sua destruição como se fosse sua salvação[4]. Eis a primeira ignorância: conceber as escolhas, adesões como modos de vida – que se tenham (e, portanto, querem manter) ou que se queiram ter (e como se vê, não tem). Eis o sumo da trama afetiva que costura a Ideologia.

A segunda ignorância se dá ao desconsiderar o que não só de fato, mas de direito, configura um juízo adequadamente. A ignorância destas condições faz com que se julgue apressadamente, antes da hora, sem todas as premissas, e assim, sem todas as premissas, temos uma conclusão equivocada, via de regra. Sem estipular o que se precisa haver de premissas para que se possa chegar a uma conclusão, ou seja, as condições elementares para um juízo, se produz seu inverso: um pré juízo, ou um pré conceito (praejudicia). Em sentido lógico, se coloca mais no efeito do que há na causa, ou dito de outro modo, coloca-se mais na conclusão do que as premissas permitiam. Como afirma o princípio de razão suficiente que postula que não pode haver mais no efeito do que há na causa, posto que do nada nada surge, ou seja, ensejando uma contradição flagrante; ao se desrespeitar tal princípio, se afirma como conclusão mais do que as causas permitiam. E é assim que, sob a égide de “Não tenho provas, mas convicções”[5], confessa-se que se quer pôr como consequência mais do que as causas e premissas permitiriam. Sem se ater ao que é suficientemente necessário para um devido juízo sobre as coisas, nessa ignorância precisa que dá asas aos preconceitos e prejuízos que afirmam menos a verdade e muito mais a vontade de qualquer coisa dada ou considerada.

E a terceira ignorância se imiscui no tecido social da vida, assim como no plano político. Como resultado de tais ignorâncias, há uma espécie de Razão Ingênua, que considera que basta usar o melhor argumento, ou meramente apresentar a Verdade à esta ou aquela pessoa para mudar de posição, para sair das trevas da caverna e aceder à luz do Conhecimento – como sustenta há séculos a filosofia de Platão e seus sucessores. Assim como também sustenta um certo Iluminismo superficial que, confiante na Razão e no Conhecimento, consideram que a ignorância seja apenas ausência do conhecimento da Verdade (ou em jargão hegeliano, que as trevas que habitam a Ignorância seja substituída pela verdade diante da Presença do Verdadeiro). Ora, todas estas e muitas considerações dessa estirpe se fundam numa concepção ingênua, que bastaria a Verdade, a Razão estar presente para afastar o seu contrário. Os gregos aqui erraram. Ou melhor. Mais que acertar ou errar. Talvez, quando Platão e outros tantos filósofos na Grécia Antiga diziam que o Mal era ausência do Bem, a Ignorância ausência da Verdade, bastante estas apresentarem-se para suprimir seu oposto, se preza, penso, menos à verdade e mais à circunstância. Circunstância de que, então, caberiam aos filósofos e não mais aos poetas e seus líderes religiosos a direção do espírito e da educação da época. Mas não estamos na Grécia de Platão, mas na mundialidade do século XXI. E uma coisa que as lições que podemos tirar da História é que não basta um melhor argumento para cessar a ignorância, pois não se trata meramente de argumentos e razões. Mas trata-se de uma dimensão afetiva que costura nos poros da experiência viva de Desejos, medos, esperanças, alegrias, tristezas e tantos outros afetos que nos mobiliza. Eis o coroamento da terceira ignorância.

Uma razão que continue em sua ingenuidade, que tem como pressuposto a onipotência da própria Razão e seu corolário, sua concepção autárquica, continuará minguando. Eis o exato da situação política diante da disputa ao pleito eleitoral baseado no convencimento, ou no famoso “ganha voto”. Ignora-se os Afetos. Ignora-se o Desejo. Ignora-se que adesões são expressões de um certo modo de vida – que se tem ou se queira ter. E isso é da ordem das paixões e da Imaginação. Sem dialogar com esse nível, fica-se no voluntarismo pueril. E mais. Não basta fazer promessas, falar-se em esperança. Tem-se e não se tem Memória. Ou melhor, ela é seletiva. Afetivamente seletiva. E muitos desconfiam, e muitas vezes com razão de ser, de estarem sendo usados como bucha de canhão para projetos excusos e que pouco ou nada irão contribuir com a realidade deles. Pelo contrário, que via de regra surgem nas eleições e nada mais. Querem seus votos e nunca mais aparecem… até a próxima eleição. A repetição dos acontecimentos torna-se um padrão e deixa suas marcas. Não teria como ser diferente. Qual marca permanece e quais são relegadas ao esquecimento é resultante, como não poderia deixar de ser, de um embate de forças.

Desse modo, a insuficiência do enunciando racional diante do estado de ignorância deveria ser mais bem compreendido. Poderia, ao invés de lamentar e vilipendiar, compreender a nervura afetiva que a própria Razão deveria conhecer para que tome-a em consideração para uma orientação eficiente e efetiva quanto a um “programa de ação” diante do horizonte político. Eis as lições que uma esquerda combativa pode tirar. Não somente visando o pleito eleitoral. Mas para além desse míope horizonte, que é viciado como é evidente, interessa sobretudo ao campo político de uma esquerda se quer para o combate, para a luta de classes, para o que efetivamente pode sustentar uma dimensão democrática na sociedade: a população que avança em se organizar e em combater pelos seus direitos, pressionando o governo, seja lá qual for, a atender tais exigências, demandas e reivindicações. E do grosso da população, sabemos qual setor tem maior impacto, a que está no setor diretamente produtivo, ou seja, a classe operária. Chafurdada no pleito eleitoral resta apenas esperanças e seu corolário, uma alegria inconstante conjuntamente ao medo de seu insucesso, ou sua mera frustração. Talvez seja melhor desesperançar, e a partir disso, não esperar, mas constituir o campo de ação para que estejamos mais potentes, seja com afetos que fortalecem nossa potência de vida, seja com uma razão que se situe em seus limites e em sua potência. Nisso, seria mais salutar construir, sempre desde já, fóruns de discussão e ação em nome de um campo de esquerda combativo. E seja qual governo que vier, pressionar a atender os nossos interesses. Enfim, construir uma independência de classe. E construí-la numa afluência da Razão e de Afetos que ampliam a nossa potência de existir, de agir, de compreender, de viver.


REFERÊNCIAS ou Sugestões de leitura

ARISTÓTELES. Retórica. Ed. WMF

DIDEROT, Denis & D´ALEMBERT, Jean le Rond. Enciclopédia ou dicionário raciocinado Das ciências, das artes e dos ofícios por uma sociedade de letrados. Ed. Unesp

ESPINOSA. Tratado da Emenda do Intelecto. Ed. Unicamp

__________. Ética demonstrada em Ordem Geométrica. Edusp

__________. Tratado Político. Ed. WMF

COMTE-SPONVILLE, Andre. Tratado do Desespero ou da Beatitude. Ed. Martins Fontes

MARX, Karl. O manifesto do partido comunista. Ed. Boitempo

__________. A Ideologia Alemã. Ed. Boitempo

PLATÃO. Diálogos. Ed. Puc-Rio

TROTSKY, Leon. Programa de Transição. Ed. Tykhe


Notas

[1] Como nos mostrou desde o século XVII o filósofo Espinosa, que antecede em muitos a própria materialidade de emoções, afetos. Que seja preciso a psicanálise se somar ao Marxismo para reabilitar uma compreensão materialista dos afetos, resulta, dentre várias causas, a que a filosofia de Espinosa fosse ignorada em seu núcleo produtivo, conhecer a unidade psicofísica do Corpo e Mente humana.

[2] Aqui cabe considerar criticamente um elemento a respeito da retórica de Aristóteles. Se o seu fundamento se dá por ser uma arte prudencial (do qual não se pode ter ciência do que não é certo e necessário, mas apenas possível), considero que seu alcance vá bem mais longe do que sua fundamentação. Não é possível haver Lógica sem Retórica, posto que em sua abstração, ou seja, separação, que o Pensamento e a Filosofia iniciam sua própria aberração, como bem disse o padre da Floresta Negra. Se a Filosofia é linguagem, é indispensável seu momento expressivo, como bem apontou o filósofo de Frankfurt.

[3] Que a psicanálise, séculos depois de Espinosa e de Marx, tenham reposto essa consideração, é algo não a lamentar. Mas a agradecer. Sob diferentes crivos, a materialidade afetiva é posta em seu devido lugar. Theodor Adorno bem captou as marcas desses elementos no pensamento, ainda que sob a égide do sofrimento, inevitável sob os auspícios fascistas.

[4] Aqui vemos como Espinosa possui, sob a marca da filosofia da expressão, uma “teoria da ideologia” em sentido marxista, avant la lettre. Ela atende pelo nome de Superstição.

[5] Como abertamente confessou o editor de slide de powerpoint em 2016.

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