A Hipótese Anarquista, ou: Badiou, Zizek e o preconceito anti-anarquista

por Gabriel Kuhn, via Alphine Anarchist Productions, traduzido por Grupo de Estudos sobre Anarquismo e Comunismo

“Dado o peso intelectual no qual ambos, Zizek e Badiou, construíram sua reputação, a superficialidade da sua crítica ao anarquismo é curiosa. Parece baseada em pouco mais do que o antigo preconceito anti-anarquista dentro do pensamento marxista.
O comentário de Badiou é a avaliação característica de alguém que uma vez aprendeu que o anarquismo era uma ideologia pequeno-burguesa e nunca se preocupou em dar uma segunda olhada. O marxismo há muito considera o movimento anarquista como um movimento utópico sem teoria substancial. É verdade que o anarquismo não tem nenhum Marx e nenhuma análise econômica comparável. Contudo, isto não significa que a teoria anarquista é pobre – mas sim pouco conhecida.”


Este ensaio foi escrito no verão de 2011, depois de Slavoj Zizek apareceu com uma camiseta do Lenin durante sua fala com Amy Goodman e Julian Assange em Londres. A conversa aconteceu em 2 de julho de 2011, recebido na Frontline Club. O “A Hipótese Comunista”, de Alain Badiou, baseia-se em uma simples, e ainda assim importante, convicção: nós temos de ser capazes de vislumbrar alguma outra coisa que não o capitalismo e a noção de comunismo torna isso possível. O entendimento de Badiou sobre comunismo, contudo, permanece um tanto vago. Ele a descreve como “uma Ideia com uma função regulatória, ao invés de um programa”(1). Assim como seu amigo e aliado comunista, Slavoj Zizek, Badiou considera as tentativas do séc. XXI de implementar o comunismo um fiasco. Embora Badiou fale com pouco detalhamento de “aparentes, e algumas vezes sangrentos, fracassos de eventos intimamente ligados à hipótese comunista”(2), Zizek corrige o apresentador do HardTalk da BBC, Stephen Sanckur, que chama o comunismo de “fracasso catastrófico” para dizer que foi um “fracasso total”(3). Contudo Zizek e Badiou são as principais estrelas de uma série de populares conferências sobre comunismo que começaram com um evento em 2009 em Londres, baseado, nas palavras de Badiou, na convicção de que “a palavra ‘comunismo’ pode e deve adquirir um valor positivo novamente”(4). Com a exceção de correntes individualistas, primitivistas, e anti-esquerdistas do anarquismo contemporâneo, a maior parte dos anarquistas – e não apenas os autodeclarados “anarco-comunistas” – apoiariam isto. “Comunismo” como uma ideia de uma sociedade baseada na igualdade de direitos, justiça social e solidariedade ao invés de competitividade está próxima da maior parte dos corações anarquistas. A visão de Badiou parece particularmente atrativa para anarquistas já que ele questiona ambos: partido e estado. Ele alega: “A existência de um estado coercitivo, separado da sociedade civil, não mais parecerá uma necessidade: um longo processo de reorganização baseado na livre associação do produtores vai vê-lo definhar”(5). E: “ […] o princípio estadista em si mesmo provou ser corrupto e, a longo prazo, ineficaz”(6). Quando Badiou argumenta que “nós temos que assumir o desafio de pensar a política fora da sua sujeição ao estado e fora da estrutura dos partidos ou do partido” (7). Benjamin Noys está correto em apontar que “anarquistas poderiam muito bem responder que isto tem sido exatamente o que anarquismo tem feito pelo menos há cem anos”. Contudo, o anarquismo parece estar longe de ser alguma coisa na qual Badiou ou Zizek estariam interessados.

As poucas e pouco sérias observações de Badiou sobre anarquismo em “A Hipótese Comunista” chega ao ponto máximo no seguinte comentário:

“Nós hoje sabemos que qualquer política emancipatória deve colocar fim ao modelo de partido, ou de múltiplos partidos, para afirmar uma política ‘sem partido’, ainda assim ao mesmo tempo sem cair na figura do anarquismo, a qual nunca foi nada além de uma crítica vã, ou o duplo, ou a sombra, dos partidos comunistas…” (9)

Esta caracterização do anarquismo é simplesmente falsa. Em muitos países, existiram vivos movimentos anarquistas muito antes dos partidos comunistas emergirem. Também ideologicamente a concepção comum do anarquismo como “irmão mais novo” do comunismo é infundada. Antes do confronto entre marxistas e bakuninistas no congresso de 1872 da Associação Internacional do Trabalhadores, marxistas e anarquistas desenvolveram correntes independentes dentro do movimento socialista. A avaliação mais notória de Zizek sobre anarquismo deriva de uma entrevista de 2002 com Doug Henwood (a quem infelizmente celebra Zizek como alguém que não se importa com o “politicamente correto”, fazendo eco a tiradas cansativas e conservadoras sobre o aparente limite à liberdade que uma demanda por padrões éticos nas relações implicam – que alguns destes esforços errem na mão não descredita o princípio):

“Para mim, a tragédia do anarquismo é que é que você acaba tendo uma sociedade secreta autoritária tentando atingir metas anarquistas. […] Eu tenho contatos na Inglaterra, França, Alemanha e mais – e todo o tempo, por trás da máscara do consenso, havia uma pessoas escolhida através de regras não escritas que era aceita como líder secreto. O totalitarismo era absoluto no sentido que as pessoas fingiam serem iguais, mas na verdade eles todos o obedeciam” (10).

Eu não ousaria comentar a situação na Inglaterra e na França, mas no que concerne à Alemanha, eu adoraria saber quem é esse “mestre secreto” dentro do movimento anarquista. Talvez Zizek tenha amigos que têm influência sobre séquitos anarquistas secretos –  e talvez não seria surpreendente se Zizek tivesse amigos assim – mas eu posso garantir que eles não exercem qualquer papel dentro do movimento anarquista alemão, muito menos têm qualquer influência maior sobre ele.

Zizek também alega:

“Um segundo ponto é que eu tenho problemas com a maneira com que o anarquismo é apropriado para os problemas de hoje. Eu acho se precisamos de algo, é organização global. Eu acho que a esquerda deveria romper com essa equação que mais organização global significa mais controle totalitário”(11).

Desde quando o anarquismo é igual a uma rejeição da organização global? Enquanto anarquistas estavam envolvidos naquilo que chamou-se de movimento “antiglobalização”, anarquistas eram os primeiros a apontar que a globalização per se não era o alvo, mas sim a globalização “corporativa” ou “neoliberal” – termos alternativos como “alterglobalização” são resultado desses debates.

Em segundo lugar, enquanto alguns anarquistas contemporâneos podem franzir a testa com a ideia de qualquer tipo de organização – global ou não – de nenhuma maneira é verdade que o movimento anarquista contemporâneo como um todo é  anti-organizacional. Na verdade, o chamado plataformismo, um movimento anarco-comunista baseado na “Plataforma Organizacional da União Geral de Anarquistas”, escrito por Nestor Makhno e seus companheiros em Paris, exilados na década de 1920, tem visto um forte ressurgimento nos últimos anos. A rede Anarkismo – um verdadeiro exemplo de base da organização mundial – está entre os mais fortes projetos anarquistas dos nossos tempos. É interessante notar que plataformistas são constantemente criticados como sendo “leninistas” por anarquistas anti-organizacionais – quem sabe existe muito mais no anarquismo para Zizek do que ele imagina. A ignorância de Žižek pode naturalmente decorrer do simples fato de que, a fim de compreender verdadeiramente os movimentos sociais, é preciso escutar. Como David Graeber, de maneira justa, perguntou: “Seria possível imaginarmos alguém como Zizek, mesmo nas suas fantasias, escutando pacientemente demandas de assembleias democráticas diretas de El Alto?”(12).

Dado o peso intelectual no qual ambos, Zizek e Badiou, construíram sua reputação, a superficialidade da sua crítica ao anarquismo é curiosa. Parace baseada em pouco mais do que o antigo preconceito anti-anarquista dentro do pensamento marxista. O comentário acima citado de Badiou é a avaliação característica de alguém que uma vez aprendeu que o anarquismo era uma ideologia pequeno-burguesa e nunca se preocupou em dar uma segunda olhada. O marxismo há muito considera o movimento anarquista como um movimento utópico sem teoria substancial. É verdade que o anarquismo não tem nenhum Marx e nenhuma análise econômica comparável. Contudo, isto não significa que a teoria anarquista é pobre – mas sim pouco conhecida.

Diferentemente da teoria marxista que teve, dentro dos seus mais de cem anos existência, um período considerável de patrocínio estatal (mesmo que alguns considerem este período como de estagnação) e uma classe bem estabelecida de acadêmicos, a teoria anarquista tem, em larga medida, sido formada fora da academia, na reflexão coletiva sobre lutas sociais e projetos nos quais engaja-se concretamente. Exemplos vão desde os círculos de estudos anarco-sindicalistas do início do sec. XX e o Movimento Escola Moderna até a cultura zine anarquista e o projeto CrimethInc. Como resultado a teoria anarquista é frequentemente mais tangível, adaptável e inspiradora do que a teoria marxista, mesmo que a teoria anarquista não tenha palavras impronunciáveis e reflexões abstratas. O mais importante é que anarquistas apresentaram insights sobre a dinâmica de poder, da autoridade e do Estado dos quais os marxistas com certeza poderiam se beneficiar. Até mesmo Badiou faz concessões como a seguinte:

“Marxistas, o movimento dos trabalhadores, democracia de massa, leninismo, o partido do proletariado, o Estado socialista – todas invenções do sec. XX – já não são mais realmente úteis. No nível teórico ainda merecem mais estudos e considerações; mas no nível prático tornaram-se inviáveis de se trabalhar com” (13).

Em 1871, Mikhail Bakunin, escreveu em Deus e o Estado:

“É característica do privilégio e de qualquer posição de privilégio, matar a mente e o coração dos homens. O homem privilegiado, seja política ou economicamente, é um homem depravado em mente e coração. Esta é uma lei social que não admite exceção, e é aplicável tanto a nações inteira qual a classes, corporações e indivíduos” (14).

Para evitar quaisquer malentendidos: apesar de entender que falta abertura de muitos Marxistas na sua relação com o anarquismo, a intenção deste ensaio não é, de maneira alguma, agredir o Marxismo. Sectarismo é um problema em todos os campos da esquerda. Minhas simpatias pessoais tem sido sempre maiores com o anarquismo do que com o Marxismo, mas minhas simpatias pessoais não são tão importantes. Nunca estive interessado em condenar o Marxismo e eu não os vejo como inevitáveis traidores e apunhaladores do anarquismo. Em alguns momentos, Marxistas são aliados dos anarquistas, em outros momentos não. O mesmo é verdade para Cristãos, camponeses e motoristas de ônibus. É claro, a história sabe de um certo número de incidentes nos quais marxistas traíram anarquistas. Mas anarquistas traíram anarquistas também. O importante é ter um objetivo em comum, nomeadamente, a abolição do sistema de estado e a solidariedade na luta.

Vamos voltar a Bakunin. Certamente, ele não é nenhuma figura histórica que Zizek ou Badiou abraçariam. Badiou e Zizek parecem estar preocupados exclusivamente com figuras históricas que detiveram poder. Pessoas como Robespierre, Lenin, Stalin, Mao. Até mesmo políticas contemporâneas são discutidas em termos de Sarkozy, Chaves e Berlusconi muito mais do que de justiça social, meio-ambiente ou movimentos pela paz. (Que Zizek não preste muita atenção para os movimentos de direitos dos animais não é surpresa dado que ele previsão de que vegetarianos tornar-se-ão “degenerados”. (15))

Contudo, a intenção deste artigo também está longe de ser a de atacar Zizek ou Badiou. Eles fazem contribuições extremamente importantes para o debate radical, estou certo de que eles estão genuinamente se esforçando para um mundo melhor, e é encorajador ver pensadores radicais adentrado a grande mídia. Ambos parecem ser companheiros agradáveis e é particularmente difícil não gostar do hiperativo Zizek. Ainda assim, o senso de humor de Zizek pode ser problemático assim como a fascinação de ambos os autores por homens poderosos. Não preciso ser “hipersensível”, “nervosinho” ou “moralista”, para ter problemas com as constantes referência a indivíduos que presidiram governos que mataram, torturaram e aprisionaram milhões, especialmente enquanto fala sobre “conceber a ideia do comunismo como um movimento real” (Zizek) (16) e “inaugurar o terceiro período da existência da Ideia” (17). Isto também se aplica a Zizek querendo mandar para o Gulag pessoas que picham slogans contra o governo nas ruas da Liubliana (18). Eu conheço essas pessoas. Talvez seja isso que deixe menos engraçado.

No curso do acalorado debate seguido da estranhamente intitulada (“Resistência é Rendição” [“Resistance Is Surrender”]) resenha do livro Indefinidamente Demandante [Infinitely Demanding] de Simon Critchley na London Review of Books (19), Critchley não se segurou na sua crítica ca Zizek:

“Como Carl Schimit nos lembra – e nós não devemos esquecer que este jurista fascista eram um grande admirador de Lenin – existem duas grandes tradições de uma esquerda não liberal e não parlamentar: autoritarismo e anarquismo. Se Zizek me ataca com violência caracteristicamente leninista por pertencer a este último, é igualmente claro qual facção ele apoia. […] Para Zizek tudo isso é irrelevante; estas formas de resistência [grupos da sociedade civil, movimentos dos direitos indígenas, globalização alternativa e movimentos contra a guerra] são simplesmente rendição. Ele revela uma nostalgia, que é de macho, e finalisticamente maneirista, por ditadura, violência política e crueldade” (20).

Mesmo com toda a  simpatia que tenho por Zizek é difícil defendê-lo de tais alegações.

Contudo, vamos voltar ao argumento que nós precisamos de um termo que mantenha viva a ideia de algo para além do capitalismo. Concordo de todo coração com isso, embora, em tempos de pós-modernidade, as objeções sejam óbvias: um termo “fixo” promove políticas de identidade, lavagens sobre as diferenças, exige hegemonia e limita as opções táticas. Entendo estas objeções e bons argumentos podem ser construídos em favor delas. Contudo, uma ameaça “diversa” também pode tornar “difusa”, e consequentemente bastante “fraca”, tal ameaça. O princípio de “dividir e conquistar” ainda é a pedra angular das políticas autoritárias. Além disso, não é o bastante dizer que uma luta específica está ligada com centenas de outras lutas – é necessário realmente ligá-las. E se essa ligação realmente existir, então porque não chamar essa rede de lutas por um nome comum? Um nome comum tem duas vantagens que são obrigatórias para políticas de massa: as pessoas se sentem parte de uma luta comum e conseguem fazer pressão coletiva sobre o inimigo. Se você não tem um nome comum, você não tem um movimento comum, ao menos não aos olhos do que é publicamente visível – mas estar publicamente visível é essencial se se quer promover a massa crítica que torna a mudança estrutural possível.

A questão levantada aqui é se o nome de “anarquismo” não seria um nome mais promissor do que o nome “comunismo”. Esta é uma pergunta estratégica. Favorecer o nome de “anarquismo” não significa necessariamente que você encontrar algo de errado com o nome de “comunismo”. Na verdade, você pode acreditar que o verdadeiro comunismo é igual ao verdadeiro anarquismo. Contudo, eu acredito que o nome “anarquismo” tem vantagens em relação ao nome “comunismo” como significante para o “outro” do capitalismo. Especialmente hoje, quando a vasta maioria das pessoas, assim como Badiou e Zizek, associam “comunismo” mais com a tradição Marxista do que com “anarquismo”.

  1. Talvez o mais óbvio: anarquismo não tem história de totalitarismo, sistemas de Gulags, e exclusão de massas.
  2. O Anarquismo não é centrado em ideias de “grandes homens”. Isto não quer dizer que o anarquismo não tenha problemas com a dominância masculina. Estes problemas são bastante reais. Mas os grandes homens do anarquismo (Bakunin, Kropotkin etc.) tem muito menos influência no anarquismo contemporâneo do que suas contrapartidas marxistas. É difícil ser considerado seriamente um Marxista se você não estudou Marx, Lenin e Mao. Enquanto isso, muitos anarquistas contemporâneos nunca pegaram em um livro de Bakunin, Kropotkin ou Malatesta. De fato, às vezes se poderia desejar um pouco mais de interesse e estudo histórico. Todavia, no geral a falta de reverência é produtiva e contribui para a vivacidade do anarquismo.
  3. O mais importante, as ideias anarquistas estão no centro da maior parte dos movimentos sociais. Enquanto ideias marxistas evidentemente continuam apresentar um papel nos movimentos sociais, seus redutos atuais parecem ser partidos marxistas tradicionais e a academia. A maior parte dos ativistas sociais autônomos aderem aos princípios anarquistas, mesmo que não usem o termo: anti-autoritarismo; organização horizontal; ação direta; processo democrático de tomada de decisão. Dez anos atrás David Graeber resumiu o credo dos “Novos Anarquistas” na New Left Review, assim: “É sobre a criação e promulgação de redes horizontais, em vez de estruturas de cima para baixo, como estados, partidos ou corporações; redes baseadas em princípios de consenso democrático descentralizado e não hierárquico” (21). Esses valores nucleares do ativismo do início de sec. XX continuam os mesmos. Em 2005, Richard Day ofereceu um testemunho global para estes desenvolvimentos no seu livro Gramsci Está Morto: Correntes Anarquistas nos Movimentos Sociais Recentes [Gramsci Is Dead: Anarchist Currents in the Newest Social Movements]. A avaliação de Day de que “uma orientação à ação direta e à construção de alternativas às formas estatais e empresariais abre novas possibilidades para a mudança social radical que não podem ser imaginadas a partir de paradigmas existentes” e que “isto nos oferece a melhor chance que temos para nos defendermos e, finalmente, tornar redundante, as sociedades neoliberais de controle ” ainda soa verdadeira (22).

Richard Day faz parte na nova geração de acadêmicos marxistas que estão desafiando a dominância Marxista nas Universidades. Iniciativas como a Rede de Estudos Anarquistas, que apareceu no Reino Unido e na América do Norte, livros como Imaginação Constitutiva: Investigações Militantes, Teorização Coletiva [Constituent Imagination: Militant Investigations, Collective Theorization] (AK Press, 2007) e Estudos Anarquistas Contemporâneos: Uma Introdução à Antologia Anarquista na Academia [Contemporary Anarchist Studies: An Introductory Anthology of Anarchism in the Academy] (Routledge, 2009), e conferências como Renovando a Tradição Anarquista [Renewing the Anarchist Tradition] (RAT), organizada pelo Instituto para Estudos Anarquistas, todos contribuíram para preencher a lacuna. Embora estas incursões anarquistas na academia sejam recebidas como fortalecimento de debate acadêmico, elas podem acabar tornando-se insinceras se não acompanhadas pela crítica profunda da instituição e do próprio papel que se ocupa nela.

Como Deric Shannon escreve em sua excelente contribuição para Estudos Anarquistas Contemporâneos:

Não adianta ignorar que carreiras são muitas vezes construídas fora da política radical em geral e do anarquismo em particular. Não digo isto para sugerir que deveríamos nos demitir de nossos empregos (os quais, afinal, nos permitem ensinar ideias anarquistas para novas gerações). É, contudo, importante que nos reconheçamos nossos interesses de carreira de maneira aberta e honesta. Novamente, carreirismo tem afetado um certo número de outras perspectivas libertadoras. Se iremos evitar isso, isso requer conversas abertas, honestas e mais importante, reflexivas, sobre interesses próprios e nosso trabalho” (23).

Cada acadêmico anarquista também deveria atentar aos conselhos de Shannon de “resistir ao carreirismo, institucionalização e domesticação que outras perspectivas libertadoras tem encontrado como parte e parcela da sua entrada na Academia” (24). Shannon identifica os seguintes aspectos-chave: “Me encontre nas ruas. Converse abertamente e reflexivamente sobre interesses próprios. Converse com os alunos sobre limitações institucionais. Resista à rigidez ideológica. Escreva, publique e discuta fora da Academia. Não faça corpo mole” (25).

Indiscutivelmente, Marxistas acadêmicos frequentemente deixam a desejar nestes quesitos. Existe um privilégio de classe de Marxistas acadêmicos, fato que não contribui para uma imagem mais positiva do Marxismo, e consequentemente do comunismo, para a visão pública. Ao mesmo tempo permite aos intelectuais Marxistas serem aceitos por pessoas que gostam de rodearem-se de intelectuais, Marxistas ou não. Muitas pessoas celebram Zizek e Badiou não porque estão interessadas n“a subjetividade de uma interação entre a singularidade de um processo de verdade e uma representação da história” ou na análise Lacaniana de filmes da Disney, mas porque Badiou e Zizek estão na moda. Os dois são aceitos assim como uma exposição da Fração do Exército Vermelho e uma loja Soviet vintage. “Comunismo” ganhou valor de troca porque seu poder real diminui. Passou de ameaçador para excêntrico. É revelador que a descrição do New Republic de Žižek como o “filósofo mais perigoso no Ocidente” não lhe tenha causado absolutamente nenhum dano; em vez disso, tem impulsionado a marca “Žižek”. Perigo radical-chic é muito diferente de perigo real. Já em 1994, a banda de noise rock Killerdozer teve amplo sucesso com o álbum Guerra Intransigente na Arte sob a Ditadura do Proletariado [Uncompromising War on Art Under the Dictatorship of the Proletariat] cheio de recortes de arte realista social e slogans comunistas old-school. Hoje, Zizek chega a ganhar popularidade por com suas numerosas citações de Stalin, enquanto Badiou tem preferido Mao há uns bons cinquenta anos.

É claro, o anarquismo também se transformou em uma commodity em muitos sentidos e também não necessariamente é percebido como um perigo. Chomsky também foi convidado para falar de política do HARDtalks, logomarcas com o A circulado atraiam a atenção para bens de consumo desde pirulitos a sacolas de mão, e feiras anarquistas de livros raramente desagradam autoridades locais ou a polícia. Contudo, a forte presença de anarquistas em movimentos sociais faz diferença. Zizek parece preferir as conferências do Partido Socialista dos Trabalhadores – ao menos um reflexo verdadeiro dos seus escritos sobre movimentos sociais.

Pode-se, é claro, argumentar que anarquistas entenderam tudo errado e que a influência deles nos movimentos sociais causa mais prejuízos do que benificios. Zizek faz apontamentos importantes sobre isto:

“Estou me tornando cético da lógica da esquerda anti-Estado. Não passará desapercebido que este discurso também encontra eco na direita. Ainda mais que eu não vejo o assim chamado ‘desaparecimento do Estado’. Pelo contrário. Pegando os Estados Unidos, por exemplo, eu tenho que confessar que em oitenta por cento das vezes, quando existe um conflito entre sociedade civil e Estado, eu estou do lado do Estado. A maior parte das vezes, o Estado precisa intervir quando grupos locais de direita querem banir o ensino da teoria da evolução nas escolas. Eu acho bastante importante, então, para a esquerda, influenciar, usar e até mesmo barrar, quando possível, o aparelho de Estado. Isso não é suficiente por si só, é claro. Na verdade, eu acho que nós precisamos nos opormos à linguagem de ‘ligne de fuite’ [´linha de fuga’] e auto-organização e assim por diante com algo que é completamente tabu na esquerda hoje – como o alho para o vampiro – ou seja, a ideia de um grande Estado ou de decisões coletivas ainda maiores” (26).

Seria muito fácil simplesmente ignorar estas reflexões. Ao mesmo tempo, elas dificilmente são novas. Noam Chomsky há muito tem causado indignação entre os anarquistas por declarações como a seguinte:

“Muitos anarquistas acreditam que o estado a forma fundamental de opressão. Eu acredito que isto seja um erro. Juntamente com as várias instituições opressivas que existem, o estado é a menor delas. O estado, ao menos para a maioria da população é democrático […] você tem alguma influência sobre o que acontece. […] Você não tem influência sobre o que acontece em uma corporação. Eles são verdadeiros tiranos. Enquanto a sociedade for amplamente dominada por tiranos privados, que é a pior forma de opressão, as pessoas precisam de algum tipo de defesa de si. E o estado provem este alguma forma de defesa de si” (27).

No contexto escandinavo, nós estamos enfrentando a ironia de muitos autodeclarados anarquistas, nos últimos anos, terem se focado na defesa no estado de bem-estar social. Contudo, isto vai apenas mostrar que os argumentos de Zizek não são necessariamente argumentos contra o anarquismo, mas apenas contra a abolição imediata do estado – argumento com o qual nem todos os anarquistas concordariam, especialmente não enquanto o estado provavelmente vá ser antes substituído por um Darwinismo Social ao invés de comunidades igualitárias. Ainda assim, não parece necessário chamar por um “estado maior” – o estado pode ser pequeno, só deve apenas focar mais em justiça social do que proteger a classe dominante de ricos.

A finalidade do anarquismo – e do comunismo –, é claro, permanece sendo a superação do estado. Isto, contudo, só pode acontecer através de um forte movimento coletivo unificado por um nome comum. Por isso eu acho um infortúnio que o anarquismo continue seguidamente sendo “a política que não ousa dizer seu nome” (28). É claro que existe inúmeras razões para as pessoas quererem livrarem-se de todas as tradições políticas e introduzirem um novo termo para suas políticas revolucionárias. Não me oponho de maneira alguma a isso. Contudo, enquanto nós não vemos nenhum nome promissor emergindo, nós poderíamos bem dar uma chance ao anarquismo, temos pouco a perder.


Notas

(1) Alain Badiou, “The Communist Hypothesis”, The New Left Review 49, January-February 2008.

(2) Alain Badiou, The Communist Hypothesis, London/New York 2010, p. 7.

(3) Slavoj Žižek on HARDtalk, BBC, November 24, 2009.

(4) Badiou, The Communist Hypothesis, p. 37.

(5) Badiou, “The Communist Hypothesis”.

(6) ibid.

(7) Alain Badiou, Polemics, London/New York 2006, p. 270.

(8) Benjamin Noys, “Through a Glass Darkly: Alain Badiou’s Critique of Anarchism”, Anarchist Studies, vol. 16, no. 2, 2008.

(9) Badiou, The Communist Hypothesis, p. 155.

(10) “I am a Fighting Atheist: Interview with Slavoj Žižek”, Bad Subjects, Issue 59, February 2002.

(11) ibid.

(12) David Graeber, “Referendum on Žižek?”, Open Letter, December 2007.

(13) Alain Badiou, “The Communist Hypothesis”.

(14) Mikhail Bakunin, God and the State, Mineola, NY 1970, p. 31.

(15) Žižek!, documentary film, directed by Astra Taylor, USA/Canada 2005.

(16) “The Idea of Communism”, panel discussion at Marxism 2010, London, July 4, 2010.

(17) Alain Badiou, The Communist Hypothesis, p. 260.

(18) Žižek!, documentary film.

(19) Slavoj Žižek, “Resistance Is Surrender”, London Review of Books, No. 22, Vol. 29, November 15, 2007.

(20) Simon Critchley, “Resistance Is Utile”, Harper’s Review, May 2008.

(21) David Graeber, “The New Anarchists”, New Left Review 13, January-February 2012.

(22) Richard J.F. Day, Gramsci Is Dead: Anarchist Currents in the Newest Social Movements, London/Ann Arbor, MI/Toronto 2005, p. 18.

(23) Deric Shannon, “As Beautiful as a Brick Through a Bank Window: Anarchy, the Academy, and Resisting Domestication”, in Contemporary Anarchist Studies: An Introductory Anthology of Anarchism in the Academy, Milton Park/New York 2009, p. 185.

(24) ibid., p. 184.

(25) ibid., p. 183-188.

(26) “Divine Violence and Liberated Territories: Soft Targets talks with Slavoj Žižek”, March 14, 2007, www.softtargetsjournal.com/web/Žižek.php.

(27) Theory and Practice: Conversations with Noam Chomsky and Howard Zinn, DVD, Oakland 2010.

(28) Benjamin Noys, “Through a Glass Darkly: Alain Badiou’s Critique of Anarchism”.

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4 comentários em “A Hipótese Anarquista, ou: Badiou, Zizek e o preconceito anti-anarquista”

  1. Gostei muito do artigo. Destaco abaixo alguns trechos que fundamentam o comentário que farei ao final:

    (…) “O importante é ter um objetivo em comum, nomeadamente, a abolição do sistema de estado e a solidariedade na luta”. (…)

    (…) “Na verdade, você pode acreditar que o verdadeiro comunismo é igual ao verdadeiro anarquismo”. (…)

    (…) “a vasta maioria das pessoas, assim como Badiou e Zizek, associam “comunismo” mais com a tradição Marxista do que com “anarquismo”. (…)

    (…) “Enquanto isso, muitos anarquistas contemporâneos nunca pegaram em um livro de Bakunin, Kropotkin ou Malatesta. De fato, às vezes se poderia desejar um pouco mais de interesse e estudo histórico. Todavia, no geral a falta de reverência é produtiva e contribui para a vivacidade do anarquismo”. (…).

    (…) “Dez anos atrás David Graeber resumiu o credo dos “Novos Anarquistas” na New Left Review, assim: “É sobre a criação e promulgação de redes horizontais, em vez de estruturas de cima para baixo, como estados, partidos ou corporações; redes baseadas em princípios de consenso democrático descentralizado e não hierárquico” (21). (…)

    (…) “Como Deric Shannon escreve em sua excelente contribuição para Estudos Anarquistas Contemporâneos:

    “Não adianta ignorar que carreiras são muitas vezes construídas fora da política radical em geral e do anarquismo em particular. Não digo isto para sugerir que deveríamos nos demitir de nossos empregos (os quais, afinal, nos permitem ensinar ideias anarquistas para novas gerações). É, contudo, importante que nos reconheçamos nossos interesses de carreira de maneira aberta e honesta. Novamente, carreirismo tem afetado um certo número de outras perspectivas libertadoras. Se iremos evitar isso, isso requer conversas abertas, honestas e mais importante, reflexivas, sobre interesses próprios e nosso trabalho” (23). (…)

    RETOMO

    Sou um liberal que tem simpatia pelo anarquismo por ver nele uma alternativa não totalitária de rebeldia e, no limite, de exercício do poder (no caso um poder horizontalizado).

    Movimentos normalmente associados ao anarquismo, como os Black Bloc, me parecem ir contra a essência do movimento anarquista e se aproximam das ações diretas defendidas por Zizek e têm um inequívoco acento autoritário/totalitário.

    É importante dizer que reconheço um inevitável pendor autoritário no marxismo, a começar pela previsão da inelutável fase da “ditadura do proletariado”, de maneira que vejo também uma incompatibilidade importante onde muitos vêm semelhança. A frase “o verdadeiro comunismo é igual ao verdadeiro anarquismo” só seria verdadeira por acidente.

    É verdade que o verdadeiro comunismo e verdadeiro anarquismo possuem a mesma dificuldade estrutural: exigem tal grau de consciência política, de semelhança de demandas/desejos e de respeito ao próximo que me parecem absolutamente fantasiosos em sociedades complexas.
    A diferença fundamental é que o comunismo mítico da utopia de Marx e Engels é uma fase posterior à ditadura do proletariado atingida pela homogeneização forçada dos desejos e das necessidades.

    O anarquismo quer chegar ao mesmo ponto através da conscientização, da disciplina individual e do comprometimento com o coletivo. É muito mais charmoso e menos perigoso, mas ainda assim utópico. Sua força real se dá exclusivamente em simbiose com as democracias liberais.

    Responder
  2. Comentário 2 – não deve ser publicado

    Encontrei alguns erros de digitação no artigo e tenho uma versão corrigida. Segue abaixo:

    Este ensaio foi escrito no verão de 2011, depois de Slavoj Zizek apareceu com uma camiseta do Lenin durante sua fala com Amy Goodman e Julian Assange em Londres. A conversa aconteceu em 2 de julho de 2011, recebido na Frontline Club. O “A Hipótese Comunista”, de Alain Badiou, baseia-se em uma simples, e ainda assim importante, convicção: nós temos de ser capazes de vislumbrar alguma outra coisa que não o capitalismo e a noção de comunismo torna isso possível. O entendimento de Badiou sobre comunismo, contudo, permanece um tanto vago. Ele a descreve como “uma Ideia com uma função regulatória, ao invés de um programa”(1). Assim como seu amigo e aliado comunista, Slavoj Zizek, Badiou considera as tentativas do séc. XXI de implementar o comunismo um fiasco. Embora Badiou fale com pouco detalhamento de “aparentes, e algumas vezes sangrentos, fracassos de eventos intimamente ligados à hipótese comunista”(2), Zizek corrige o apresentador do HardTalk da BBC, Stephen Sanckur, que chama o comunismo de “fracasso catastrófico” para dizer que foi um “fracasso total”(3). Contudo Zizek e Badiou são as principais estrelas de uma série de populares conferências sobre comunismo que começaram com um evento em 2009 em Londres, baseado, nas palavras de Badiou, na convicção de que “a palavra ‘comunismo’ pode e deve adquirir um valor positivo novamente”(4). Com a exceção de correntes individualistas, primitivistas, e anti-esquerdistas do anarquismo contemporâneo, a maior parte dos anarquistas – e não apenas os autodeclarados “anarco-comunistas” – apoiariam isto. “Comunismo” como uma ideia de uma sociedade baseada na igualdade de direitos, justiça social e solidariedade ao invés de competitividade está próxima da maior parte dos corações anarquistas. A visão de Badiou parece particularmente atrativa para anarquistas já que ele questiona ambos: partido e estado. Ele alega: “A existência de um estado coercitivo, separado da sociedade civil, não mais parecerá uma necessidade: um longo processo de reorganização baseado na livre associação do produtores vai vê-lo definhar”(5). E: “ […] o princípio estadista em si mesmo provou ser corrupto e, a longo prazo, ineficaz”(6). Quando Badiou argumenta que “nós temos que assumir o desafio de pensar a política fora da sua sujeição ao estado e fora da estrutura dos partidos ou do partido” (7). Benjamin Noys está correto em apontar que “anarquistas poderiam muito bem responder que isto tem sido exatamente o que anarquismo tem feito pelo menos há cem anos”. Contudo, o anarquismo parece estar longe de ser alguma coisa na qual Badiou ou Zizek estariam interessados.

    As poucas e pouco sérias observações de Badiou sobre anarquismo em “A Hipótese Comunista” chega ao ponto máximo no seguinte comentário:

    “Nós hoje sabemos que qualquer política emancipatória deve colocar fim ao modelo de partido, ou de múltiplos partidos, para afirmar uma política ‘sem partido’, ainda assim ao mesmo tempo sem cair na figura do anarquismo, a qual nunca foi nada além de uma crítica vã, ou o duplo, ou a sombra, dos partidos comunistas…” (9)

    Esta caracterização do anarquismo é simplesmente falsa. Em muitos países, existiram vivos movimentos anarquistas muito antes dos partidos comunistas emergirem. Também ideologicamente a concepção comum do anarquismo como “irmão mais novo” do comunismo é infundada. Antes do confronto entre marxistas e bakuninistas no congresso de 1872 da Associação Internacional do Trabalhadores, marxistas e anarquistas desenvolveram correntes independentes dentro do movimento socialista. A avaliação mais notória de Zizek sobre anarquismo deriva de uma entrevista de 2002 com Doug Henwood (a quem infelizmente celebra Zizek como alguém que não se importa com o “politicamente correto”, fazendo eco a tiradas cansativas e conservadoras sobre o aparente limite à liberdade que uma demanda por padrões éticos nas relações implicam – que alguns destes esforços errem na mão não descredita o princípio):

    “Para mim, a tragédia do anarquismo é que é que você acaba tendo uma sociedade secreta autoritária tentando atingir metas anarquistas. […] Eu tenho contatos na Inglaterra, França, Alemanha e mais – e todo o tempo, por trás da máscara do consenso, havia uma pessoas escolhida através de regras não escritas que era aceita como líder secreto. O totalitarismo era absoluto no sentido que as pessoas fingiam serem iguais, mas na verdade eles todos o obedeciam” (10).

    Eu não ousaria comentar a situação na Inglaterra e na França, mas no que concerne à Alemanha, eu adoraria saber quem é esse “mestre secreto” dentro do movimento anarquista. Talvez Zizek tenha amigos que têm influência sobre séquitos anarquistas secretos – e talvez não seria surpreendente se Zizek tivesse amigos assim – mas eu posso garantir que eles não exercem qualquer papel dentro do movimento anarquista alemão, muito menos têm qualquer influência maior sobre ele.

    Zizek também alega:

    “Um segundo ponto é que eu tenho problemas com a maneira com que o anarquismo é apropriado para os problemas de hoje. Eu acho se precisamos de algo, é organização global. Eu acho que a esquerda deveria romper com essa equação que mais organização global significa mais controle totalitário”(11).

    Desde quando o anarquismo é igual a uma rejeição da organização global? Enquanto anarquistas estavam envolvidos naquilo que chamou-se de movimento “antiglobalização”, anarquistas eram os primeiros a apontar que a globalização per se não era o alvo, mas sim a globalização “corporativa” ou “neoliberal” – termos alternativos como “alterglobalização” são resultado desses debates.

    Em segundo lugar, enquanto alguns anarquistas contemporâneos podem franzir a testa com a ideia de qualquer tipo de organização – global ou não – de nenhuma maneira é verdade que o movimento anarquista contemporâneo como um todo é anti-organizacional. Na verdade, o chamado plataformismo, um movimento anarco-comunista baseado na “Plataforma Organizacional da União Geral de Anarquistas”, escrito por Nestor Makhno e seus companheiros em Paris, exilados na década de 1920, tem visto um forte ressurgimento nos últimos anos. A rede Anarkismo – um verdadeiro exemplo de base da organização mundial – está entre os mais fortes projetos anarquistas dos nossos tempos. É interessante notar que plataformistas são constantemente criticados como sendo “leninistas” por anarquistas anti-organizacionais – quem sabe existe muito mais no anarquismo para Zizek do que ele imagina. A ignorância de Žižek pode naturalmente decorrer do simples fato de que, a fim de compreender verdadeiramente os movimentos sociais, é preciso escutar. Como David Graeber, de maneira justa, perguntou: “Seria possível imaginarmos alguém como Zizek, mesmo nas suas fantasias, escutando pacientemente demandas de assembleias democráticas diretas de El Alto?”(12).

    Dado o peso intelectual no qual ambos, Zizek e Badiou, construíram sua reputação, a superficialidade da sua crítica ao anarquismo é curiosa. Parece baseada em pouco mais do que o antigo preconceito anti-anarquista dentro do pensamento marxista. O comentário acima citado de Badiou é a avaliação característica de alguém que uma vez aprendeu que o anarquismo era uma ideologia pequeno-burguesa e nunca se preocupou em dar uma segunda olhada. O marxismo há muito considera o movimento anarquista como um movimento utópico sem teoria substancial. É verdade que o anarquismo não tem nenhum Marx e nenhuma análise econômica comparável. Contudo, isto não significa que a teoria anarquista é pobre – mas sim pouco conhecida.

    Diferentemente da teoria marxista que teve, dentro dos seus mais de cem anos de existência, um período considerável de patrocínio estatal (mesmo que alguns considerem este período como de estagnação) e uma classe bem estabelecida de acadêmicos, a teoria anarquista tem, em larga medida, sido formada fora da academia, na reflexão coletiva sobre lutas sociais e projetos nos quais engaja-se concretamente. Exemplos vão desde os círculos de estudos anarco-sindicalistas do início do sec. XX e o Movimento Escola Moderna até a cultura zine anarquista e o projeto CrimethInc. Como resultado a teoria anarquista é frequentemente mais tangível, adaptável e inspiradora do que a teoria marxista, mesmo que a teoria anarquista não tenha palavras impronunciáveis e reflexões abstratas. O mais importante é que anarquistas apresentaram insights sobre a dinâmica de poder, da autoridade e do Estado dos quais os marxistas com certeza poderiam se beneficiar. Até mesmo Badiou faz concessões como a seguinte:

    “Marxistas, o movimento dos trabalhadores, democracia de massa, leninismo, o partido do proletariado, o Estado socialista – todas invenções do sec. XX – já não são mais realmente úteis. No nível teórico ainda merecem mais estudos e considerações; mas no nível prático tornaram-se inviáveis de se trabalhar com” (13).

    Em 1871, Mikhail Bakunin, escreveu em Deus e o Estado:

    “É característica do privilégio e de qualquer posição de privilégio, matar a mente e o coração dos homens. O homem privilegiado, seja política ou economicamente, é um homem depravado em mente e coração. Esta é uma lei social que não admite exceção, e é aplicável tanto a nações inteira qual a classes, corporações e indivíduos” (14).

    Para evitar quaisquer malentendidos: apesar de entender que falta abertura de muitos Marxistas na sua relação com o anarquismo, a intenção deste ensaio não é, de maneira alguma, agredir o Marxismo. Sectarismo é um problema em todos os campos da esquerda. Minhas simpatias pessoais tem sido sempre maiores com o anarquismo do que com o Marxismo, mas minhas simpatias pessoais não são tão importantes. Nunca estive interessado em condenar o Marxismo e eu não os vejo como inevitáveis traidores e apunhaladores do anarquismo. Em alguns momentos, Marxistas são aliados dos anarquistas, em outros momentos não. O mesmo é verdade para Cristãos, camponeses e motoristas de ônibus. É claro, a história sabe de um certo número de incidentes nos quais marxistas traíram anarquistas. Mas anarquistas traíram anarquistas também. O importante é ter um objetivo em comum, nomeadamente, a abolição do sistema de estado e a solidariedade na luta.

    Vamos voltar a Bakunin. Certamente, ele não é nenhuma figura histórica que Zizek ou Badiou abraçariam. Badiou e Zizek parecem estar preocupados exclusivamente com figuras históricas que detiveram poder. Pessoas como Robespierre, Lenin, Stalin, Mao. Até mesmo políticas contemporâneas são discutidas em termos de Sarkozy, Chaves e Berlusconi muito mais do que de justiça social, meio-ambiente ou movimentos pela paz. (Que Zizek não preste muita atenção para os movimentos de direitos dos animais não é surpresa dado que é dele a previsão de que vegetarianos tornar-se-ão “degenerados”. (15))

    Contudo, a intenção deste artigo também está longe de ser a de atacar Zizek ou Badiou. Eles fazem contribuições extremamente importantes para o debate radical, estou certo de que eles estão genuinamente se esforçando para um mundo melhor, e é encorajador ver pensadores radicais adentrado a grande mídia. Ambos parecem ser companheiros agradáveis e é particularmente difícil não gostar do hiperativo Zizek. Ainda assim, o senso de humor de Zizek pode ser problemático assim como a fascinação de ambos os autores por homens poderosos. Não preciso ser “hipersensível”, “nervosinho” ou “moralista”, para ter problemas com as constantes referência a indivíduos que presidiram governos que mataram, torturaram e aprisionaram milhões, especialmente enquanto fala sobre “conceber a ideia do comunismo como um movimento real” (Zizek) (16) e “inaugurar o terceiro período da existência da Ideia” (17). Isto também se aplica a Zizek querendo mandar para o Gulag pessoas que picham slogans contra o governo nas ruas da Liubliana (18). Eu conheço essas pessoas. Talvez seja isso que deixe menos engraçado.

    No curso do acalorado debate seguido da estranhamente intitulada (“Resistência é Rendição” [“Resistance Is Surrender”]) resenha do livro Indefinidamente Demandante [Infinitely Demanding] de Simon Critchley na London Review of Books (19), Critchley não se segurou na sua crítica à Zizek:

    “Como Carl Schimit nos lembra – e nós não devemos esquecer que este jurista fascista era um grande admirador de Lenin – existem duas grandes tradições de uma esquerda não liberal e não parlamentar: autoritarismo e anarquismo. Se Zizek me ataca com violência caracteristicamente leninista por pertencer a este último, é igualmente claro qual facção ele apoia. […] Para Zizek tudo isso é irrelevante; estas formas de resistência [grupos da sociedade civil, movimentos dos direitos indígenas, globalização alternativa e movimentos contra a guerra] são simplesmente rendição. Ele revela uma nostalgia, que é de macho, e finalisticamente maneirista, por ditadura, violência política e crueldade” (20).

    Mesmo com toda a simpatia que tenho por Zizek é difícil defendê-lo de tais alegações.

    Contudo, vamos voltar ao argumento que nós precisamos de um termo que mantenha viva a ideia de algo para além do capitalismo. Concordo de todo coração com isso, embora, em tempos de pós-modernidade, as objeções sejam óbvias: um termo “fixo” promove políticas de identidade, lavagens sobre as diferenças, exige hegemonia e limita as opções táticas. Entendo estas objeções e bons argumentos podem ser construídos em favor delas. Contudo, uma ameaça “diversa” também pode tornar “difusa”, e consequentemente bastante “fraca”, tal ameaça. O princípio de “dividir e conquistar” ainda é a pedra angular das políticas autoritárias. Além disso, não é o bastante dizer que uma luta específica está ligada com centenas de outras lutas – é necessário realmente ligá-las. E se essa ligação realmente existir, então porque não chamar essa rede de lutas por um nome comum? Um nome comum tem duas vantagens que são obrigatórias para políticas de massa: as pessoas se sentem parte de uma luta comum e conseguem fazer pressão coletiva sobre o inimigo. Se você não tem um nome comum, você não tem um movimento comum, ao menos não aos olhos do que é publicamente visível – mas estar publicamente visível é essencial se se quer promover a massa crítica que torna a mudança estrutural possível.

    A questão levantada aqui é se o nome de “anarquismo” não seria um nome mais promissor do que o nome “comunismo”. Esta é uma pergunta estratégica. Favorecer o nome de “anarquismo” não significa necessariamente que você encontrar algo de errado com o nome de “comunismo”. Na verdade, você pode acreditar que o verdadeiro comunismo é igual ao verdadeiro anarquismo. Contudo, eu acredito que o nome “anarquismo” tem vantagens em relação ao nome “comunismo” como significante para o “outro” do capitalismo. Especialmente hoje, quando a vasta maioria das pessoas, assim como Badiou e Zizek, associam “comunismo” mais com a tradição Marxista do que com “anarquismo”.

    Talvez o mais óbvio: anarquismo não tem história de totalitarismo, sistemas de Gulags, e exclusão de massas.
    O Anarquismo não é centrado em ideias de “grandes homens”. Isto não quer dizer que o anarquismo não tenha problemas com a dominância masculina. Estes problemas são bastante reais. Mas os grandes homens do anarquismo (Bakunin, Kropotkin etc.) tem muito menos influência no anarquismo contemporâneo do que suas contrapartidas marxistas. É difícil ser considerado seriamente um Marxista se você não estudou Marx, Lenin e Mao. Enquanto isso, muitos anarquistas contemporâneos nunca pegaram em um livro de Bakunin, Kropotkin ou Malatesta. De fato, às vezes se poderia desejar um pouco mais de interesse e estudo histórico. Todavia, no geral a falta de reverência é produtiva e contribui para a vivacidade do anarquismo.
    O mais importante, as ideias anarquistas estão no centro da maior parte dos movimentos sociais. Enquanto ideias marxistas evidentemente continuam a apresentar um papel nos movimentos sociais, seus redutos atuais parecem ser partidos marxistas tradicionais e a academia. A maior parte dos ativistas sociais autônomos aderem aos princípios anarquistas, mesmo que não usem o termo: anti-autoritarismo; organização horizontal; ação direta; processo democrático de tomada de decisão. Dez anos atrás David Graeber resumiu o credo dos “Novos Anarquistas” na New Left Review, assim: “É sobre a criação e promulgação de redes horizontais, em vez de estruturas de cima para baixo, como estados, partidos ou corporações; redes baseadas em princípios de consenso democrático descentralizado e não hierárquico” (21). Esses valores nucleares do ativismo do início de sec. XX continuam os mesmos. Em 2005, Richard Day ofereceu um testemunho global para estes desenvolvimentos no seu livro Gramsci Está Morto: Correntes Anarquistas nos Movimentos Sociais Recentes [Gramsci Is Dead: Anarchist Currents in the Newest Social Movements]. A avaliação de Day de que “uma orientação à ação direta e à construção de alternativas às formas estatais e empresariais abre novas possibilidades para a mudança social radical que não podem ser imaginadas a partir de paradigmas existentes” e que “isto nos oferece a melhor chance que temos para nos defendermos e, finalmente, tornar redundante, as sociedades neoliberais de controle ” ainda soa verdadeira (22).
    Richard Day faz parte na nova geração de acadêmicos marxistas que estão desafiando a dominância Marxista nas Universidades. Iniciativas como a Rede de Estudos Anarquistas, que apareceu no Reino Unido e na América do Norte, livros como Imaginação Constitutiva: Investigações Militantes, Teorização Coletiva [Constituent Imagination: Militant Investigations, Collective Theorization] (AK Press, 2007) e Estudos Anarquistas Contemporâneos: Uma Introdução à Antologia Anarquista na Academia [Contemporary Anarchist Studies: An Introductory Anthology of Anarchism in the Academy] (Routledge, 2009), e conferências como Renovando a Tradição Anarquista [Renewing the Anarchist Tradition] (RAT), organizada pelo Instituto para Estudos Anarquistas, todos contribuíram para preencher a lacuna. Embora estas incursões anarquistas na academia sejam recebidas como fortalecimento de debate acadêmico, elas podem acabar tornando-se insinceras se não acompanhadas pela crítica profunda da instituição e do próprio papel que se ocupa nela.

    Como Deric Shannon escreve em sua excelente contribuição para Estudos Anarquistas Contemporâneos:

    “Não adianta ignorar que carreiras são muitas vezes construídas fora da política radical em geral e do anarquismo em particular. Não digo isto para sugerir que deveríamos nos demitir de nossos empregos (os quais, afinal, nos permitem ensinar ideias anarquistas para novas gerações). É, contudo, importante que nos reconheçamos nossos interesses de carreira de maneira aberta e honesta. Novamente, carreirismo tem afetado um certo número de outras perspectivas libertadoras. Se iremos evitar isso, isso requer conversas abertas, honestas e mais importante, reflexivas, sobre interesses próprios e nosso trabalho” (23).

    Cada acadêmico anarquista também deveria atentar aos conselhos de Shannon de “resistir ao carreirismo, institucionalização e domesticação que outras perspectivas libertadoras tem encontrado como parte e parcela da sua entrada na Academia” (24). Shannon identifica os seguintes aspectos-chave: “Me encontre nas ruas. Converse abertamente e reflexivamente sobre interesses próprios. Converse com os alunos sobre limitações institucionais. Resista à rigidez ideológica. Escreva, publique e discuta fora da Academia. Não faça corpo mole” (25).

    Indiscutivelmente, Marxistas acadêmicos frequentemente deixam a desejar nestes quesitos. Existe um privilégio de classe de Marxistas acadêmicos, fato que não contribui para uma imagem mais positiva do Marxismo, e consequentemente do comunismo, para a visão pública. Ao mesmo tempo permite aos intelectuais Marxistas serem aceitos por pessoas que gostam de rodearem-se de intelectuais, Marxistas ou não. Muitas pessoas celebram Zizek e Badiou não porque estão interessadas na “subjetividade de uma interação entre a singularidade de um processo de verdade e uma representação da história” ou na análise Lacaniana de filmes da Disney, mas porque Badiou e Zizek estão na moda. Os dois são aceitos assim como uma exposição da Fração do Exército Vermelho e uma loja Soviet vintage. “Comunismo” ganhou valor de troca porque seu poder real diminui. Passou de ameaçador para excêntrico. É revelador que a descrição do New Republic de Žižek como o “filósofo mais perigoso no Ocidente” não lhe tenha causado absolutamente nenhum dano; em vez disso, tem impulsionado a marca “Žižek”. Perigo radical-chic é muito diferente de perigo real. Já em 1994, a banda de noise rock Killerdozer teve amplo sucesso com o álbum Guerra Intransigente na Arte sob a Ditadura do Proletariado [Uncompromising War on Art Under the Dictatorship of the Proletariat] cheio de recortes de arte realista social e slogans comunistas old-school. Hoje, Zizek chega a ganhar popularidade por com suas numerosas citações de Stalin, enquanto Badiou tem preferido Mao há uns bons cinquenta anos.

    É claro, o anarquismo também se transformou em uma commodity em muitos sentidos e também não necessariamente é percebido como um perigo. Chomsky também foi convidado para falar de política do HARDtalks, logomarcas com o A circulado atraiam a atenção para bens de consumo desde pirulitos a sacolas de mão, e feiras anarquistas de livros raramente desagradam autoridades locais ou a polícia. Contudo, a forte presença de anarquistas em movimentos sociais faz diferença. Zizek parece preferir as conferências do Partido Socialista dos Trabalhadores – ao menos um reflexo verdadeiro dos seus escritos sobre movimentos sociais.

    Pode-se, é claro, argumentar que anarquistas entenderam tudo errado e que a influência deles nos movimentos sociais causa mais prejuízos do que benificios. Zizek faz apontamentos importantes sobre isto:

    “Estou me tornando cético da lógica da esquerda anti-Estado. Não passará desapercebido que este discurso também encontra eco na direita. Ainda mais que eu não vejo o assim chamado ‘desaparecimento do Estado’. Pelo contrário. Pegando os Estados Unidos, por exemplo, eu tenho que confessar que em oitenta por cento das vezes, quando existe um conflito entre sociedade civil e Estado, eu estou do lado do Estado. A maior parte das vezes, o Estado precisa intervir quando grupos locais de direita querem banir o ensino da teoria da evolução nas escolas. Eu acho bastante importante, então, para a esquerda, influenciar, usar e até mesmo barrar, quando possível, o aparelho de Estado. Isso não é suficiente por si só, é claro. Na verdade, eu acho que nós precisamos nos opormos à linguagem de ‘ligne de fuite’ [´linha de fuga’] e auto-organização e assim por diante com algo que é completamente tabu na esquerda hoje – como o alho para o vampiro – ou seja, a ideia de um grande Estado ou de decisões coletivas ainda maiores” (26).

    Seria muito fácil simplesmente ignorar estas reflexões. Ao mesmo tempo, elas dificilmente são novas. Noam Chomsky há muito tem causado indignação entre os anarquistas por declarações como a seguinte:

    “Muitos anarquistas acreditam que o estado é a forma fundamental de opressão. Eu acredito que isto seja um erro. Juntamente com as várias instituições opressivas que existem, o estado é a menor delas. O estado, ao menos para a maioria da população é democrático […] você tem alguma influência sobre o que acontece. […] Você não tem influência sobre o que acontece em uma corporação. Eles são verdadeiros tiranos. Enquanto a sociedade for amplamente dominada por tiranos privados, que é a pior forma de opressão, as pessoas precisam de algum tipo de defesa de si. E o estado provem este “alguma forma de defesa de si” (27).

    No contexto escandinavo, nós estamos enfrentando a ironia de muitos autodeclarados anarquistas, nos últimos anos, terem se focado na defesa do estado de bem-estar social. Contudo, isto vai apenas mostrar que os argumentos de Zizek não são necessariamente argumentos contra o anarquismo, mas apenas contra a abolição imediata do estado – argumento com o qual nem todos os anarquistas concordariam, especialmente não enquanto o estado provavelmente vá ser antes substituído por um Darwinismo Social ao invés de comunidades igualitárias. Ainda assim, não parece necessário chamar por um “estado maior” – o estado pode ser pequeno, só deve apenas focar mais em justiça social do que proteger a classe dominante de ricos.

    A finalidade do anarquismo – e do comunismo –, é claro, permanece sendo a superação do estado. Isto, contudo, só pode acontecer através de um forte movimento coletivo unificado por um nome comum. Por isso eu acho um infortúnio que o anarquismo continue seguidamente sendo “a política que não ousa dizer seu nome” (28). É claro que existe inúmeras razões para as pessoas quererem livrarem-se de todas as tradições políticas e introduzirem um novo termo para suas políticas revolucionárias. Não me oponho de maneira alguma a isso. Contudo, enquanto nós não vemos nenhum nome promissor emergindo, nós poderíamos bem dar uma chance ao anarquismo, temos pouco a perder.

    Notas

    (1) Alain Badiou, “The Communist Hypothesis”, The New Left Review 49, January-February 2008.

    (2) Alain Badiou, The Communist Hypothesis, London/New York 2010, p. 7.

    (3) Slavoj Žižek on HARDtalk, BBC, November 24, 2009.

    (4) Badiou, The Communist Hypothesis, p. 37.

    (5) Badiou, “The Communist Hypothesis”.

    (6) ibid.

    (7) Alain Badiou, Polemics, London/New York 2006, p. 270.

    (8) Benjamin Noys, “Through a Glass Darkly: Alain Badiou’s Critique of Anarchism”, Anarchist Studies, vol. 16, no. 2, 2008.

    (9) Badiou, The Communist Hypothesis, p. 155.

    (10) “I am a Fighting Atheist: Interview with Slavoj Žižek”, Bad Subjects, Issue 59, February 2002.

    (11) ibid.

    (12) David Graeber, “Referendum on Žižek?”, Open Letter, December 2007.

    (13) Alain Badiou, “The Communist Hypothesis”.

    (14) Mikhail Bakunin, God and the State, Mineola, NY 1970, p. 31.

    (15) Žižek!, documentary film, directed by Astra Taylor, USA/Canada 2005.

    (16) “The Idea of Communism”, panel discussion at Marxism 2010, London, July 4, 2010.

    (17) Alain Badiou, The Communist Hypothesis, p. 260.

    (18) Žižek!, documentary film.

    (19) Slavoj Žižek, “Resistance Is Surrender”, London Review of Books, No. 22, Vol. 29, November 15, 2007.

    (20) Simon Critchley, “Resistance Is Utile”, Harper’s Review, May 2008.

    (21) David Graeber, “The New Anarchists”, New Left Review 13, January-February 2012.

    (22) Richard J.F. Day, Gramsci Is Dead: Anarchist Currents in the Newest Social Movements, London/Ann Arbor, MI/Toronto 2005, p. 18.

    (23) Deric Shannon, “As Beautiful as a Brick Through a Bank Window: Anarchy, the Academy, and Resisting Domestication”, in Contemporary Anarchist Studies: An Introductory Anthology of Anarchism in the Academy, Milton Park/New York 2009, p. 185.

    (24) ibid., p. 184.

    (25) ibid., p. 183-188.

    (26) “Divine Violence and Liberated Territories: Soft Targets talks with Slavoj Žižek”, March 14, 2007, http://www.softtargetsjournal.com/web/Žižek.php.

    (27) Theory and Practice: Conversations with Noam Chomsky and Howard Zinn, DVD, Oakland 2010.

    (28) Benjamin Noys, “Through a Glass Darkly: Alain Badiou’s Critique of Anarchism”.

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